terça-feira, novembro 1

Caminhoneiros bloqueiam rodovias em vinte Estados

 Em São Paulo, há registros de protestos em três pontos de duas rodovias federais, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal

Após a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caminhoneiros organizaram bloqueios em diferentes estradas pelo País em protesto contra os resultados das urnas neste domingo, 30. A Polícia Rodoviária Federal informou ontem, 31, que até as 20h33 havia 321 pontos de interdições, bloqueios ou manifestações em estradas em vinte Estados do País.

“Quando surgiram as primeiras interdições, a PRF adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo, direcionando equipes para os locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias priorizando o diálogo, para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos, como aconteceu em outros protestos”, disse a PRF.
Há bloqueios, segundo a PRF, nos seguintes Estados: Alagoas, Amazonas, Acre, Rio Grande do Norte, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Roraima, Maranhão, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Ceará, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Paraná, Pará, Tocantins e Rio de Janeiro. As informações foram publicadas na conta oficial do Twitter da PRF.
Em São Paulo, um grupo de manifestantes fechou a Marginal Tietê no sentido Ayrton Senna. Segundo a Companhia de Engenharia de Trafego (CET), a ação teve início por volta das 15h30. Neste momento, uma das faixas está liberada. Outras duas seguem ocupadas.
Os manifestantes estenderam uma faixa contra o presidente eleito Lula e chegaram a bloquear todo o trânsito. A Polícia Militar acompanha o protesto. Em São Paulo, há registros de protestos em três pontos de duas rodovias federais, segundo a Polícia Rodoviária Federal.
Na BR-116, nos trechos próximos a Pindamonhangaba e Embu das Artes, o tráfego está bloqueado nos dois sentidos, com registros de pneus incendiados. Já no trecho próximo ao município de Jacareí cerca de 30 manifestantes interromperam a pista sentido norte. A PRF negocia a liberação de uma das faixas.
Na BR-153, na região de São José do Rio Preto, 30 manifestantes se concentram à margem da rodovia. Outros pontos já foram liberados pela PRF. A vitória de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro no segundo turno foi declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pouco antes das 20h. Até a noite de ontem, Bolsonaro não havia se pronunciado ou reconhecido a vitória de seu adversário.
Vídeos publicados em redes sociais desde a noite de domingo, 30, mostram caminhoneiros fechando pontos de estradas. Nos grupos de WhatsApp, eles afirmam que as manifestações têm apoio de empresários do agronegócio e também do comércio. Vários vídeos mostram carretas paradas nas estradas, pneus queimados e caminhões jogando terra nas rodovias para interditar as vias. Eles aguardam um comunicado de Jair Bolsonaro, como se esperassem um comando para agir. Há opiniões para todos os gostos: alguns não acreditam que o presidente vá tomar alguma providência. Outros dizem que é questão de horas.
Mas, alguns líderes que já participaram de outras manifestações, disseram ao Estadão que isso é só “fogo de palha de reacionários”. Sobre o apoio de empresários, dizem que todas as manifestações têm a participação deles nos bastidores.
O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, que liderou a greve dos caminhoneiros de 2018, disse nesta manhã, em vídeo, que não é hora de parar o País. Ele criticou as paralisações pontuais que estão sendo feitas em algumas localidades ontem. “Quero reconhecer, através da Abrava, a eleição, a democracia desse País, parabenizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela sua vitória”, disse o líder caminhoneiro, informando que tem sido procurado nesta manhã sobre as paralisações que estão ocorrendo em alguns pontos do País.
“Não é o momento de parar esse País, vamos aceitar, isso é democracia”, afirmou. Ele disse que pretende ter um alinhamento com o próximo governo e que vai continuar lutando pelo segmento de transporte e destacou o Projeto de Lei 1.205, do senador Lucas Barreto, que dispõe sobre o transporte de cargas. “Isso sim vai trazer um ganho para a categoria. Nesse momento, parar o País vai prejudicar muito a economia, precisamos ter reconhecimento da democracia desse País, a vitória do presidente, muito apertada sim, mas se fosse ao contrário a esquerda também teria que entender e aceitar a vitória ao contrário “, ressaltou.
Wanderlei Alves, conhecido como Dedeco, também vê os protestos como pontuais. “Eu acredito que tenham o direito de protestar, só que eles têm que aceitar a democracia e não ficar travando a pista, porque está atrapalhando a vida de todo mundo. Assim como aceitamos a vitória do Bolsonaro em 2018, agora eles têm de aceitar a vitória do Lula”, disse. “Se for uma paralisação para reivindicar algum direito da classe, a classe terá meu apoio. Se for uma paralisação política, para atrapalhar o governo do Lula, não terá o meu apoio. Acho que autoridades têm de tomar providências porque não pode cercear o direito de ir e vir das pessoas que estão na via. É assim que os bolsonaristas falavam quando a gente ia reivindicar alguma coisa contra o governo Bolsonaro.”
Diretor-presidente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Plínio Dias disse que não há indício de paralisação ampla de caminhoneiros autônomos. “Vi alguns vídeos e são pessoas desconhecidas e acho que também nem são caminhoneiros”, apontou.
“Com base em nosso monitoramento identificamos que não se trata de uma greve/ movimento exclusivo de caminhoneiros, são movimentações individuais, .pontuais e de cunho ideológico sem coordenação de entidades ou lideranças”, afirmou a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA).
Em nota oficial, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) diz defender a democracia e “respeitar o resultado soberano das urnas”. “Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos de não aceitação do resultado das urnas. Precisamos respeitar o que o povo decidiu nas urnas: a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse projeto que está foi derrotado ontem”, afirma o diretor da CNTTL, o caminhoneiro autônomo de Ijuí-RS, Carlos Alberto Litti Dahmer.
Número
321 pontos estavam interditados ontem.
Bancada ruralista pede que rodovias sejam liberadas 
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das maiores do Congresso Nacional e que representa o setor produtivo, fez um apelo para que as rodovias do País sejam liberadas e que os caminhoneiros retomem o trabalho. Em nota, a FPA pediu que seja assegurado o livre trânsito de cargas com animais e ainda para ambulâncias.
“Fazemos um apelo para que as rodovias sejam liberadas para cargas vivas, ração, ambulâncias e outros produtos de primeira necessidade e/ou perecíveis”, declarou Frente Parlamentar da Agropecuária.
Os parlamentares do agronegócio afirmam que entendem que “o momento é delicado e respeita o direito constitucional à manifestação, porém ressalta que o caminho das paralisações de nossas rodovias impacta diretamente os consumidores brasileiros, no possível desabastecimento e em toda a cadeia produtiva rural do País”.
Dados do governo dão conta de que há paralisações pontuais em 16 Estados na tarde ontem. Caminhoneiros protestam contra a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente Jair Bolsonaro segue sem se pronunciar sobre o resultado das eleições. Em rede social, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) endossou apoio a qualquer ação que o presidente venha a fazer.
Polícia Rodoviária aciona a Advocacia-Geral da União 
A Polícia Rodoviária Federal informou que atendeu 136 ocorrências em rodovias federais desde este domingo, 30. A corporação disse que desde que encontrou os primeiros bloqueios, "adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo". O comunicado afirma ainda que as equipes estão negociando a liberação das estradas, "priorizando o diálogo", e observando o "direito de manifestação dos cidadãos".
A PRF também informou que acionou a Advocacia-Geral da União (AGU), que representa na Justiça os interesses de órgãos do governo, para conseguir respaldo judicial "como forma de garantir pacificamente a manutenção da fluidez nas rodovias brasileiras". A AGU confirmou que vai entrar com as ações, mas disse que a PRF "pode atuar sem demandar autorização".
Tribuna do Norte.

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