quinta-feira, fevereiro 7

ARTIGO DE FRANÇOIS SILVESTRE

A dialética da mediocridade
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Tempos de miséria dialética. A considerar-se tudo que se confronta, enfrenta-se, afirma-se ou se nega.
Hegel resgata da era clássica a dialética empírica e lhe dá feição idealista. A lógica, então método usual, foi superada na investigação filosófica. Arquivamento dos silogismos.
Um discípulo de Hegel, Karl Marx, repensou a dialética e contestou Hegel. Dizia ele que Hegel acertara na superação da lógica, mas pusera a dialética de cabeça para baixo. E quem fora discípulo, agora era revisor.
Mesmo que os marxistas detestem o revisionismo, não foi outra coisa o que Marx fez com Hegel. Desvestindo a dialética do idealismo para dar-lhe compleição materialista. Aliás, nesse aspecto, Engels foi mais profundo do que Marx.
A negação dos marxistas ao revisionismo vem dos diversos momentos em que foi preciso justificar o poder, mesmo negando princípios originários do próprio marxismo. Até Fustel de Coulanges, equivocadamente chamado de positivista, foi tachado de “precursor” do revisionismo. Daí negou-se a importância da sua obra clássica, “A Cidade Antiga”, que se debruçou sobre a religião, organização política e vida familiar nas Cidades-Estados da era Clássica.
É verdade que a dialética tem vida muito mais antiga do que Hegel e Marx. Aristóteles, Demóstenes, Heráclito de Éfeso são alguns ensaístas da dialética primitiva. Também operada por Tomaz de Aquino, na Escolástica. E arranhada por Santo Agostinho, na Patrística.
A tese, antítese e síntese superam e substituem as deficiências simplistas da lógica. Hegel tem o mérito histórico da sua transposição para o pensamento moderno. Marx e Engels cumpriram papel semelhante, na aplicação do método dialético ao pensamento político de transformação. Isto é, no materialismo histórico.
Cuja práxis prometida, negadora do idealismo, produziu o mais fantástico fracasso histórico de quantas revoluções houve.
Pois bem. O Brasil conseguiu, sem revolução, o feito de aprimorar a dialética do fracasso. A política brasileira é “A boneca de uma menina que não tem braços”, como a felicidade definida por Humberto de Campos.
O capitalismo brasileiro é pré-feudal, o socialismo brasileiro é pré-burguês e a política do Brasil ainda cisca no terreiro da caverna.
Tudo no contorno infindável da promiscuidade público- privada, estuário institucionalizado da trampolinagem e demagogia. Horta fértil de cujo estrume brotam “salvadores da pátria”.
A dialética, no Brasil, não tem tese. Só antítese, sem síntese. Desordem institucional, desonestidade administrativa e farsa de controle.
O único governo que tentou reformas de base, inclusive agrária, foi João Goulart, um latifundiário. E caiu por isso. Imprensado no meio da guerra fria, travada pelo império capitalista americano contra o império militarista da burocracia soviética.
A pátria dos quartéis vendeu-se. A pátria dos políticos prostituiu-se. O povo recebeu a sucata da pátria, cujo conserto, hoje, atropela-se na dialética da mediocridade. A vontade coletiva conseguirá romper o fracasso? Nem a dialética responde.

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