terça-feira, março 24

NEM TRABALHADORES NO PARTIDO NEM PARTIDO DOS TRABALHADORES

CARLOS CHAGAS 
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    A lição vem de Luis Carlos Prestes, que por sua vez a tirou de Lenin: um grupo intelectualizado, com conhecimentos profundos de política, economia, História, sociologia e congêneres,  forma um  partido e imprime nele diretrizes sólidas capazes de sensibilizar e  conduzir o proletariado. Aos poucos,  esse grupo vai traduzindo e  repassando para a militância as noções básicas de seus objetivos.  O  proletariado percebe  serem  aqueles  os seus sentimentos e anseios.  Esforça-se para compreender  o máximo da teoria  que lhe é oferecida. Deve estudar. Absorver os ensinamentos, acoplá-los à sua vida  e,  aos poucos, assume a direção do partido,  exprimindo, pela ação,   a busca da igualdade e do bem comum que    representa, maioria que é.
    O singular está em que o PT começou mais ou menos assim, trinta anos atrás. Um núcleo  de intelectuais, inclusive da Igreja, envolveu lideranças proletárias, inclusive a   maior delas, o Lula. Imaginaram aproveitar o potencial humano do metalúrgico e de seus companheiros, repassando a eles conhecimento  e deles recebendo lições práticas de suas necessidades e de sua capacidade de luta e de resistência. Assim formou-se o PT, entusiasmando  a juventude e assustando as elites.
    O diabo é que concluímos, hoje, que  o Partido dos Trabalhadores deixou de ter trabalhadores e  cansou  de ser partido. Ao conquistar o poder, transformou-se num aglomerado de burocratas empenhados em afastar-se do proletariado, sem falar nos aproveitadores que se aproximam dos cofres públicos. Com o passar do tempo das lutas, os intelectuais foram saindo  de mansinho, depois da Igreja.  Ganha uma viagem a Cuba quem citar um pensador de renome, um intelectual do tipo Florestan Fernandes orientando o PT.  Hoje, o ideal dos companheiros é alçar-se à classe média ou chegar  acima dela, de preferência como funcionário público e dirigente de uma empresa estatal.  O próprio Lula aburguesou-se.  Encontram-se nas bancadas do partido  uns poucos ex-sindicalistas, mas nenhum operário eleito nessa condição.
    Quem quiser explicar o sufoco porque passa o governo Dilma deve buscar as origens  na metamorfose petista. Aliás, ela nunca foi do PT, até o dia em que precisou tratar de sua carreira política. Era brizolista. Por isso faz caretas sempre que telefona alguém do PT.
    Ainda agora, quando a presidente da República propôs ao Congresso a redução do salário-desemprego ou a extinção de pensões para viúvas abaixo dos 45 anos, onde se encontrava o partido?  Qual a proposta que seus ministros, seus  deputados e senadores apresentaram nos últimos doze anos para ampliar direitos sociais? Fica-se apenas no programa de renda mínima do isolado Eduardo Suplicy. O resto é assistencialismo, do tipo bolsa-família, porque conquistas, mesmo, sobram as implantadas por Getúlio Vargas, muitas suprimidas ao longo das últimas décadas.
    Nada como o tempo para passar, já dizia o poeta. O sonho da fundação do PT desfez-se de forma  melancólica.  Tornou-se um partido igual aos outros.  O proletariado  dá-se por feliz se mantiver o trabalho  de ridícula remuneração. O operário não acredita quando o avô lembra que já houve estabilidade no emprego.
    Assistimos a um novo surto de maldades, entre os  sucessivos praticados com regularidade pelas elites e pelos governos. Nos tempos recentes, Eurico Dutra congelou por cinco anos  o salário-minimo. Depois Castello Branco suprimiu a estabilidade e o salário-família. Fernando Henrique optou por criar empregos no estrangeiro  e demissões no Brasil. Pois não é que agora, em pleno governo do PT, Dilma ameaça direitos do trabalhador? Adota o mesmo modelo neoliberal do mundo desenvolvido, ou seja, para os subdesenvolvidos  superarem suas crises, nada como demissões em massa, supressão de direitos sociais, cortes de gastos públicos, endividamento externo, aumento de impostos e de preços de combustíveis, transportes,  luz  e gás.  

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