Para onde vão os votos, por Ricardo Guedes
Ricardo Guedes
Após as manifestações, o voto para Presidente da República de 2014 deixa Dilma Rousseff e o PT, migrando para as oposições.
Existe hoje um político que represente as manifestações da rua? A resposta é não, mas isso é relativo.
Os movimentos sociais brasileiros visam não somente à classe política em geral, mas principalmente ao poder central, último e principal responsável pelas políticas públicas que não foram efetivadas ao longo dos anos.
As manifestações sindicais também vieram a apresentar demandas e protestos em relação ao governo.
Há crise geral de legitimidade, mas o descontentamento em 2014 necessariamente deságua nas opções partidárias existentes, como quadro institucional político de viabilização do voto no país.
É nítido nas pesquisas que Dilma Rousseff cai de 51% para 30% das intenções de voto após as manifestações, e que os três candidatos de oposição sobem conjuntamente de 36% para 47%.
Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos
Marina Silva foi de 17% para 23%, Aécio Neves de 14% para 17%, e Eduardo Campos de 6% para 7%. Indecisos subiram de 13% para 23%, voto que tende a refluir para as oposições, uma vez não resolvidos os problemas das ruas.
O Planalto move-se equivocadamente, como se fosse parte do movimento social que o contesta, gerando diagnóstico e propostas desfocadas do problema da falta de serviços públicos e da inflação que corrompe o poder de compra dos brasileiros.
Nos grupos de discussão, Marina é hoje vista como líder segmentada, Aécio como líder nacional, e Eduardo Campos como líder regional. Marina representa no momento o maior atrativo para o descontentamento manifestado nas ruas, mas é vista como a de menor bagagem para o exercício do cargo.
Na França existe um ditado: o eleitor vota no primeiro turno com o coração, e no segundo turno com a razão.
No Brasil, é interessante observar que Heloísa Helena chegou a 15% nas pesquisas no primeiro turno de 2006, terminando com 6% dos votos no total do eleitorado.
Em 2010, Marina chegou a 16% nas pesquisas, terminando com 14% do total do eleitorado, com o voto fluindo para os partidos e candidatos de maior institucionalização.
É muito pouco provável que o Planalto consiga introduzir políticas públicas que se adequem à voz das ruas no prazo dos próximos 12 meses.
A probabilidade de que novas manifestações ocorram durante a Copa do Mundo em 2014 é muito grande, contrastada a falta de serviços públicos com o padrão FIFA.
Sem o governo atender às demandas da sociedade, fica a cargo das oposições a apresentação de propostas que a seduzam.
A reeleição de Dilma Rousseff vai-se complicando nas projeções para 2014.
Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.
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