sábado, julho 6

O VAI-E-VÉM DO PLEBISCITO

O fato e a versão, por Merval Pereira

Merval Pereira, O Globo
A mais recente trapalhada do Palácio do Planalto mostra bem como o governo Dilma está perdido na busca de aparentes respostas rápidas às manifestações populares.
Depois de recuar em 24 horas da convocação de uma Constituinte exclusiva para realizar a reforma política, foram necessárias apenas quatro horas para que recuasse da realização do plebiscito para valer já em 2014 e voltasse atrás do recuo.
O vice-presidente Michel Temer, depois de se encontrar com José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e Aloizio Mercadante, da Educação, que atualmente faz o papel de coordenador político do governo, foi claro em uma entrevista coletiva: “Não há mais condições — e vocês sabem disso — de fazer qualquer consulta antes de outubro. E, não havendo condições temporais para fazer essa consulta, qualquer reforma que venha só se aplicará para as próximas eleições, e não para essa”.

Michel Temer, Vice-presidente, se reúne com líderes da Câmara. Foto: André Dusek

Essa é a verdade dos fatos, mas não a verdade que a presidente Dilma quer ouvir. Sentiu-se desprestigiada, como se tivesse autoridade legal para convocar um plebiscito, e exigiu uma retratação.
Temer então soltou uma nota oficial da Vice-Presidência da República, afirmando que “o governo mantém a posição de que o ideal é a realização do plebiscito em data que altere o sistema político eleitoral já nas eleições de 2014”.
Entre o ideal e o possível vai uma distância grande, neste caso, pelo menos, mas se salvou a honra da “soberana”, como o marqueteiro João Santana define a presidente Dilma Rousseff e ela, pelo visto, se sente como tal.
Apegar-se à realização do plebiscito como se fosse a salvação da lavoura não passa de uma estratégia política para levar para longe do Palácio do Planalto as críticas das ruas.
Se é verdade que uma reforma política é necessária para que o Congresso reflita mais os anseios da cidadania, é mais verdade ainda que os temas principais das manifestações se referiam a melhorias de condições que dependem mais da ação eficiente do governo do que de reformas políticas.
O Executivo precisa se organizar de maneira a permitir mais investimentos, e para isso necessita dar o exemplo: cortar custos, equilibrar suas contas, conter a inflação.
Sem esses pré-requisitos, não haverá melhoria da economia, que segue para o terceiro ano num ritmo de crescimento médio que já é o menor dos últimos 16 anos. O resto é jogada de marqueteiro para enganar os eleitores.

Leia a íntegra em O fato e a versão

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