quinta-feira, agosto 1

Dilma usa Lula como escudo, por Ricardo Noblat

Quem de direito governa este país?

Dilma Rousseff, naturalmente. Porque foi eleita. E a Justiça reconheceu sua eleição como legítima.

Quem de fato governa este país?

Uma vez mais a resposta é Dilma.

 É ela é quem despacha no Palácio do Planalto e mora no Palácio do Alvorada.

 Reúne-se com ministros quando quer. E assina papéis.

Foto: Sérgio Amaral

Lula não influencia as decisões que ela toma? Principalmente as mais importantes?

É claro que sim. Mas se Lula mandasse tanto em Dilma como parece, é possível que o governo dela pedisse menos reparos.

Dilma não desobedece a Lula por mal. Nem por birra. Nem porque queira provar que é ela quem governa. Dilma, apenas, não consegue fazer tudo o que Lula sugere. E do jeito que ele sugere.

Na campanha eleitoral de 2010, Lula apresentou Dilma como melhor gestora do que ele. Disse que por isso deveria ser eleita.

Comprovou-se que Lula foi melhor gestor do que ela. Dilma é uma gestora medíocre. Por sinal não é gestora: é uma gerentona. São coisas diferentes.

Embora reconhecesse o temperamento um tanto áspero de Dilma e sua dificuldade em se relacionar bem com os políticos, Lula garantiu que no fim tudo daria certo.

Não deu - embora o fim ainda não tenha chegado.
É cômodo para Dilma que Lula aparente conduzi-la - e ao seu governo. Só assim ela pode compartilhar com ele os bons e maus resultados.

O compartilhamento dos maus resultados a protege um pouco.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Dilma se viu diante da seguinte pergunta:

- O que acha do movimento "Volta, Lula" em 2014?
A resposta:

- Querida [quando ela trata alguém por "querida" ou "querido" significa que está aborrecida], olha, vou te falar uma coisa: eu e o Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola.

Agora, falar volta Lula e tal... Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu. Ele disse outro dia: "Vou morrer fazendo política. Podem fazer o que quiser. Vou estar velhinho e fazendo política".

"Eu e Lula somos indissociáveis", destacou Dilma. E teve razão para fazê-lo.

Se fossem dissociáveis ela não teria sido eleita. A maioria das pessoas votou "na mulher de Lula". Raras as que tinham condições de avaliar se Dilma merecia seu voto. Lula pediu. Deram.

Se Lula e Dilma fossem dissociáveis, a essa altura ela estaria ainda mais próxima do fundo do poço. A verdade é essa.

"Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu", afirmou Dilma.

Cortesia com Lula?

Sim, mas não somente. Aqui Dilma foi esperta.

Ao ressaltar que Lula não voltará ao governo ou ao poder porque jamais o deixou, Dilma aumenta a ligação dele com ela. Dilma vale-se de Lula como um escudo.

Se essa não foi sua intenção, esse é o resultado.
Dará certo valer-se de Lula como escudo?
Sabe-se lá!

Talvez constranja Lula e o PT. Talvez os levem a tentar salvá-la de todos os modos.

Foram eles que pariram Dilma. Ela não pediu para chegar onde chegou.

Eles, portanto, que a embalem.

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