Mesmo enfrentando uma “tempestade perfeita” Bolsonaro entregará ao próximo governo um país melhor do que recebeu.
Por João Silva
Quando Bolsonaro foi eleito presidente em 2018, era evidente que um novo Brasil estava nascendo; era consenso que o recém-eleito presidente teria a difícil tarefa de administrar um país dividido, uma economia estagnada, além de uma grave crise ética que comprometia – e ainda compromete – a confiança da população nas instituições de Estado. No entanto, ninguém poderia prever o ambiente doméstico e internacional caótico que este governo enfrentaria durante os quatro anos de sua gestão. Eventos como o desastre de Brumadinho, a crise argentina, a Covid-19, a crise logística, a alta nos combustíveis e a politização do judiciário impactaram significativamente a economia e poderiam ter causado graves desequilíbrios macroeconômicos. Apesar das dificuldades, a economia brasileira não sucumbiu as adversidades. Além de superar as crises, o governo estabeleceu as bases para o crescimento futuro do país. Todavia, os frutos da benéfica herança que a equipe econômica liderada por Paulo Guedes está deixando para a economia brasileira dependerá da continuidade de uma política econômica fundamentada nos princípios da ortodoxia econômica: responsabilidade fiscal, liberdade econômica e redução do tamanho do Estado.
O Brasil teve tudo para dar errado nos últimos quatro anos. Poderíamos, facilmente, ter tido o mesmo destino de países emergentes que estão enfrentando crises econômicas, como a Argentina e a Turquia. Contudo, o Brasil teve um desempenho econômico superior às expectativas em todos os anos de gestão do atual governo. Por quê? Justamente porque os desafios econômicos que se apresentaram não foram enfrentados a partir das tentações populistas que circundam todos os governos. Ademais, o norte de reformas econômicas não fora perdido.
Um bom exemplo da postura prudente da política econômica do governo foi a maneira como se lidou com o elevado aumento dos preços dos combustíveis em meados deste ano. As propostas populistas foram atrativas para a classe política, inclusive para o Presidente, quando a pressão popular para controlar o preço dos combustíveis quase fez com que o governo tivesse que intervir na política de preços da Petrobras. A equipe econômica, entretanto, resistiu aos chamados populistas. Em vez de manipular os preços, o governo decidiu pelo caminho da diminuição de impostos. Ademais, não foram colocados embusteiros na presidência da Petrobras e no Ministério de Minas e Energia como muitos especulavam. Para Petrobras, Bolsonaro escolheu o experiente gestor de empresas Caio Mário Paes de Andrade e, para Minas e Energia, o talentoso economista Adolfo Sachsida. Destarte, preservou-se a credibilidade da política econômica e a confiança dos agentes econômicos no país.
Além de atuar adequadamente nos momentos de pressão política, o governo também não abandonou a agenda reformista, mesmo enfrentando diversas crises. O governo aprovou a reforma da previdência, estabeleceu vários novos marcos regulatórios, implementou diversas reformas microeconômicas, reduziu impostos, alcançou lucros recordes com as estatais, privatizou 36% das empresas estatais, estabeleceu 15 acordos comerciais com outros países, realizou 84 concessões de ativos de infraestrutura, implementou o PIX, criou o Auxílio Brasil – o maior programa de transferência de renda da história do país –, entre tantas outras medidas.
Com estas ações, o Brasil enfrentou a pandemia e todas as outras crises dos últimos quatro anos e permaneceu de pé. Bolsonaro será o responsável por entregar um país com uma relação dívida-PIB menor do que recebeu e será o primeiro governo a ter gastos em relação ao PIB menor do que os seus antecessores desde a redemocratização. Além disso, deixa o país com uma trajetória da dívida pública controlada, R$ 1 trilhão de reais em investimentos contratados para o setor de infraestrutura, uma inflação inferior aos Estados Unidos e Alemanha, um dos governos mais digitalizados do mundo, crescimento de 10% no número de empregos, e forte crescimento do investimento privado no país.
Enfim, o trabalho do governo Bolsonaro na economia remete aos tempos de Otávio Gouveia de Bulhões e Roberto Campos, quando a dupla estabeleceu o PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo). Foi a partir do PAEG que se possibilitou a estabilização e modernização da economia, assim estabelecendo a base para o “milagre econômico” brasileiro. Sem dúvida, ainda não estamos em condições de ter um crescimento de dois dígitos como tivemos nos anos setenta. No entanto, as políticas econômicas implementadas pelo atual governo permitirão o Brasil experimentar um longo ciclo de crescimento, desde que o país não sucumba ao populismo. A concretização deste ciclo de crescimento dependerá da credibilidade do novo governo. Apenas com as contas públicas ajustadas e um ambiente propício a investimentos e ao empreendedorismo poderemos tornar o sonho do crescimento econômico sustentável uma realidade. Infelizmente, o novo governo não demonstra nenhum indício de querer dar continuidade a esta agenda econômica virtuosa. Agora, eles terão que provar se conseguem transformar a herança bendita legada em uma dádiva, ou se farão dela uma maldição para o povo brasileiro.
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