sexta-feira, maio 22

ARTIGO - Classe política ajuda Bolsonaro

Bolsonaro, Congresso e STF
Ney Lopes

“Um dia de paz e entendimento” disse o governador paulista João Doria, um dos críticos mais acirrados do Presidente Jair Bolsonaro, após a reunião virtual com o Chefe da Nação, quando foram debatidas medidas de enfrentamento à pandemia, que coloca o Brasil em terceiro lugar no mundo em número de casos, com quase vinte mil mortos.
Como se tornou possível esse diálogo? Através do único instrumento disponível numa Democracia que é a arte política, capaz de construir acordos entre os diferentes. O filósofo grego Aristóteles disse que a política tem por objetivo a felicidade humana. Infelizmente, o quadro de desvios éticos que envolveu o país nos últimos anos, fez com que a política fosse interpretada como coautora de todos os crimes praticados, o que não é verdade. Grave equívoco! Sem política, só resta o autoritarismo.
Instalado o governo do presidente Bolsonaro (conheci em convivência no Congresso Nacional), sempre achei, que um dos maiores entraves à governabilidade poderia ser a concepção de alguns ao seu redor, de que a expressiva vitória eleitoral significara a ressurreição da Revolução de 1964.
Defendia-se claramente , tanto na campanha, quanto no governo, não ser prioridade com conviver com os poderes constitucionais (Congresso e Judiciário), através da montagem de um governo de coalizão, que é a tradição da nossa democracia. A ideia seria que a alta popularidade do vencedor faria com que fosse temido e os poderes adotassem comportamento dócil, com aceitação de tudo que o Executivo pretendesse executar.
Tal raciocínio apoiava-se no fato, de que as urnas teriam dado forte recado de rejeição à classe política, apontada como responsável pela corrupção e aos desmandos praticados. O presidente e o seu grupo acharam que proclamar o combate à corrupção seria suficiente para governar. Caso o STF, ou Congresso resistissem, o povo enfurecido nas ruas chegaria a ruptura institucional. Mas, não foi bem assim.
A tragédia da pandemia agravou a conjuntura política nacional e a governabilidade ficou ameaçada. Instalou-se verdadeiro “disse me disse”, diante das gravíssimas discordâncias, entre os poderes, presidente, governadores e prefeitos. Mesmo com esse clima instável, as instituições democráticas brasileiras mostraram maturidade.
O encontro virtual desta quinta, 21, demonstra com ênfase, que o único meio de construção da Paz e Estabilidade democrática é através dos políticos. A vídeo conferencia foi o resultado da ação política do deputado Rodrigo Maia e do senador Davi Alcolumbre, com apoio dos seus pares e partidos.
Não se viu unanimidade entre os participantes do encontro, até porque Nelson Rodrigues tem razão, ao dizer que “toda unanimidade é burra”. Observou-se alívio geral da Nação, cujo desejo é que o “diálogo” dure muito tempo e não haja percalços.
A “classe política”, ao promover o entendimento entre o presidente, governadores e prefeitos, sem adesismos ou perda de personalidade, prestou serviço ao governo Jair Bolsonaro e a Democracia, fazendo com que, de agora por diante, o grande derrotado seja o “coronavírus” e não o Brasil.
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano; ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal; procurador federal – nl@neylopes.com.br – @blogdoneylopes

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