sexta-feira, novembro 9

Renan sobre disputa pela cadeira de Sarney: ‘Ansiedade se resolve com remédio e terapia’


Josias de Souza

Visto pelos colegas como candidato à poltrona de José Sarney, o líder do PMDB Renan Calheiros considera “precipitado” o movimento deflagrado contra o retorno dele à presidência do Senado. Evita posiconar-se como postulante ao cargo. Com uma ponta de ironia, aconselha aos antagonistas que administrem a impaciência. “Ansiedade se resolve com remédio e terapia”, diz.

Conforme noticiado aqui, um grupo suprapartidário de senadores articula o lançamento de um candidato para medir forças com Renan. Emergiu como alternativa o senador catatinense Luiz Henrique, também do PMDB. Em conversa com o blog, Renan comentou: “A precipitação não ajuda na obtenção da unidade. Acho que pode tumultuar o processo.”

Por quê? “O Luiz Henrique é um grande nome. O Jarbas Vasconcelos também. É legítimo que postulem. Mas quando o processo ocorre em detrimento da decisão da bancada, isso estimula uma disputa pelos outros cargos [na Mesa diretora e nas comissões do Senado]. É preciso respeitar a proporcionalidade.”

O princípio da “proporcionalidade” consta do regimento interno do Senado. Prevê que a distribuição dos postos de comando da Casa deve observar, preferencialmente, o tamanho das bancadas dos partidos. Quanto maior o número de senadores, mais importantes os cargos. Por esse critério, cabe ao PDMB, dono de 22 cadeiras, a indicação do candidato à presidência.

Renan afirma que as outras legendas governistas “não questionam” o critério. E acrescenta: “Como líder do PMDB, tenho que garantir que os partididos marchem com essa concepção de que cabe à maior bancada indicar o candidato. Cabe a mim também trabalhar pela unidade do PMDB. Depois que o partido fizer sua escolha, se tiver outro candidato, é legítimo e democrático. Mas não será um estímulo à proporcionalidade.”

Indagado três vezes se é ou será candidato a presidente do Senado, Renan não disse que sim. Tampouco disse que não. Saiu-se com respostas enigmáticas. Coisas assim: “Não é hora de tomar essa decisão. A bancada terá de decidir qual é o calendário mais conveniente. Se invertermos o processo, deflagraremos uma disputa fora de hora. Meu papel é o de buscar a unidade.”

Ou assim: “Como líder da bancada, na hora que você se coloca [como candidato] perde a condição de liderar o processo, deixa de priorizar a unidade. O PMDB tem 22 senadores, todos aptos a exercer a presidência. Quero agregar todos os grupos.”

Enxerga o movimento dos antagonistas como um veto ao seu nome? “De forma nenhuma, é legítimo”, diz Renan, diplomático. “Apenas acho que é preciso observar a proporcionalidade. Não é fácil o trabalho de um partido que tem tantas alternativas para uma eleição na Casa.”

Afinal, quando o PMDB irá reunir-se para escolher seu representante na sucessão de Sarney? “A eleição é em fevereiro, não agrega nada ter um nome agora”, Renan desconversa. Será antes da virada do ano? “Acho importante que seja até o final de ano, porque em janeiro virá o recesso. Mas é a bancada que tem que dizer que chegou a hora.”

De resto, Renan afirma que “a precipitação é uma deselegância com Sarney.” Como assim? “É natural conversar sobre isso. Mas antecipar a sucessão é coisa mais comum em Assembléias Legislativas. A antecipação desautoriza o presidente.” Renan serve-se uma vez mais da ironia: “Vivemos num país complicado. Temos até uma lei que proíbe bater em velho”, diz, referindo-se à idade avançada de Sarney, 82.

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