Um dos trechos mais marcantes de "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes, é o célebre discurso de Quixote sobre a liberdade, no capítulo 58 da seguinte parte:
" A liberdade, Sancho, é um dos dons mais preciosos que os Ceus deram aos homens, com ela não podem igualar-se os tesouros que encerram a terra e o mar: pela liberdade assim como pela honra, pode e deve aventurar-se a vida."
Essa passagem, em que Dom Quixote exalta a liberdade como um dos maiores dons celestiais, é uma das mais profundas de " Dom Quixote de la Mancha." Nela, o cavaleiro andante expressa uma visão elevada da liberdade e da honra, colocando-os acima de qualquer tesouro material.
O discurso transcedente as aventuras do protagonista, revelando a profundidade moral e política da obra. Ao valorizar a liberdade como essencial a dignidade humana, Cervantes oferece uma reflexão atemporal sobre a condição humana e os ideais que orientam a existência.
O discurso de Dom Quixote revela uma concepção idealista e universal da liberdade. Para ele, a liberdade é uma característica essencial da dignidade humana, elevada a esfera transcendental, sendo um direito inalienável, independente da condição material ou social. Essa visão antecipa ideias discutidas por filósofos iluministas, como Rousseau e Locke, que também defenderam a liberdade como um direito natural.
A filosofia de Quixote, no entanto, está ligada a honra. Viver em liberdade é viver com honra, e sem honra, a vida perde o valor. A honra aqui não é apenas reputação exterior, mas integridade moral, que permite agir conforme os próprios princípios, sem imposições externas.
O idealismo de Quixote contrasta com a dura realidade que o cerca. A obra de Cervantes se constrói sobre o conflito entre os altos ideais do cavaleiro e a frieza da sociedade.
Quixote luta para manter seus princípios em um mundo que ridiculariza e nega esses valores. Para ele, a liberdade é um ideal pelo qual vale a pena sacrificar a vida, ainda que o sacrifício não seja correspondido.
BRENO DACOSTA
CHICO TORQUATO
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