sábado, maio 20

Collor não é um bom exemplo, mas é ótimo aviso

 

Fernando Collor, quem diria, estava certo. O tempo realmente é o senhor da razão, como disse ele quando foi pilhado saqueando a República antes de sofrer o impeachment. Três décadas depois, formou-se no Supremo Tribunal Federal a maioria que tatuou na testa de Collor a sentença de corrupto. O personagem nunca foi um bom exemplo. Lula já o chamava de "ladrão" nos anos 90 do século passado. Mas a sentença tardia transforma Collor num extraordinário aviso para Lula 3. Concluiu-se que Collor enfiou sua organização criminosa dentro de um cofre da BR Distribuidora, antigo braço da Petrobras. Isso ocorreu no segundo mandato de Lula, que entregou ao ex-desafeto duas diretorias da subsidiária da petroleira. O assalto de R$ 29 milhões foi investigado e denunciado pela Procuradoria no governo de Dilma Rousseff. Virou ação penal no Supremo durante a gestão de Michel Temer. Por um capricho do destino, Collor chega às portas da cadeia no alvorecer de Lula 3. O relator Edson Fachin sugere uma cana de 33 anos.

Na campanha presidencial do ano passado, o PT sustentou a versão segundo a qual os governos do partido foram alvo de "falsas denúncias". Lula defendeu a descriminalização da política. A condenação de Collor chega para realçar três coisas: 1) Amnésia não se confunde com consciência limpa; 2) Petrolão não é ficção; e 3) A política continuará sendo criminalizada sempre que um político for flagrado cometendo crimes. No momento, Lula se esforça para entregar aos brasileiros o melhor mandato de sua vida, como prometeu aos eleitores. Simultaneamente, administra os apetites de hipotéticos aliados no Congresso. Centrão e assemelhados reacomodam prepostos dentro do orçamento federal. 

Forçam a porta dos cofres de bancos públicos e de estatais. Se não puder realizar o sonho do mandato perfeito, Lula precisa tentar ao menos evitar a realização de pesadelos como Collor.

JOSIAS DE SOUZA

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