
Getúlio Vargas começou a vida política no Rio Grande do Sul, como deputado e depois governador. Era um homem do sistema, conhecedor das elites e das Forças Armadas. Em 1930, chega ao poder rompendo a velha ordem da República Velha. Não venceu pelo voto direto. Venceu pela força política e militar de um momento de crise nacional.
No governo, concentrou poder rapidamente. Em 1937, fechou o Congresso, cancelou eleições, censurou jornais e perseguiu adversários. O país entrou no Estado Novo, um regime autoritário, com propaganda oficial e controle social. Não é opinião: é registro histórico. Nesse período, o Brasil manteve aproximação diplomática e ideológica com regimes autoritários europeus, inclusive a Alemanha nazista, algo comum antes da Segunda Guerra, mas que hoje não pode ser ignorado.
Essa aproximação não significou submissão total, mas existiu. O governo observava modelos de organização do trabalho, controle sindical e propaganda de Estado. Enquanto isso, opositores eram presos, exilados ou silenciados. O povo ganhou proteção social, mas perdeu liberdade política.
Com a guerra avançando, o cenário mudou. Ataques a navios brasileiros, pressão internacional e interesses estratégicos levaram Getúlio a romper com o Eixo. O Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados e enviou tropas para a Europa. A guinada foi real. O mesmo governo que flertou com regimes autoritários passou a combatê-los militarmente.
No campo social, Vargas construiu sua maior herança. Criou a Consolidação das Leis do Trabalho, garantiu direitos, salário mínimo, jornada regulamentada e proteção ao trabalhador urbano. Para milhões de brasileiros, foi a primeira vez que o Estado apareceu como aliado concreto. Isso gerou apoio popular profundo e memória afetiva que atravessou gerações.
Em 1945, saiu do poder. Mas em 1950 voltou pela via democrática. Foi eleito pelo voto direto, com apoio popular expressivo. Não voltou como ditador, voltou como presidente eleito. O povo conhecia seus feitos, sentia seus benefícios, mas será que conhecia toda a história?
Getúlio deixou um legado duplo: direitos sociais duradouros e um passado autoritário inegável. Uma coisa não apaga a outra. A história não é torcida organizada. Ela é feita de fatos, contradições e escolhas.
Fica a pergunta que atravessa o tempo: os projetos que beneficiam milhões apagam as escolhas autoritárias e alianças condenáveis do passado? Ou amadurecer como sociedade exige encarar tudo, sem cortes convenientes?
Fonte: Kelly Maria
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