segunda-feira, junho 23

A IRRITAÇÃO DE GRACILIANO RAMOS


" Desconfio que Graciliano sabia mais português que Aurélio." disse numa ocasião a escritora Raquel de Queiroz. Além de escritor, Graciliano Ramos foi um rigoroso revisor de texto...aí de quem cometesse erros de português na redação do jornal: xingava sem piedade

É de se imaginar que toda essa intolerância não ficasse ao ambiente de trabalho.

Nos anos 40, quando Graciliano era filiado ao PCB, um escritor compareceu a uma reunião do partido para pedir que endossassem um manifesto contra o imperialismo, mas caiu no vacilo de ler seu texto em voz alta justamente diante Graciliano: Ao farfalhar das águas...O escritor alagoano interrompeu a leitura com um murro na mesa berrando:

- " Farfalhar das águas" é a puta que o pariu! o que farfalha é folhagem!

Em questões de língua, suas queixas não eram apenas gramaticais, mas também estilísticas. O poeta Lêdo Ivo conta um episódio ocorrido durante o trabalho de revisão no Periódico Cultura Política (1941-1945). O autor de um artigo tinha abusado das conjunções: " Mas no entanto, contudo, todavia, O Estado Nacional..." Graciliano não se conteve:

Mas, no entanto, contudo, todavia...é a puta que o pariu!

Essa irritação se estendia aos estrangeirismo e ao uso de determinadas palavras, ainda que corretas. Nos anos 30, após sair da prisão, o escritor passou a trabalhar como copidesque do Jornal Correio da Manhã(RJ). O jornalista Franklin de Oliveira conta que, certa noite, ainda na redação o escritor interrompeu a leitura de um original ao encontrar nele o arcaico adverbo " Outrossim", levantou a cabeça e berro: - Outrossim...Outrossim...é a puta que o pariu!

Por aí já é possível deduzir que Graça também não perdoava os pedantes. Ao prefaciar o livro do vencedor de um concurso literário, ele escreveu que o autor não pratica os erros voluntários de certos cidadãos que escrevendo sistematicamente as avessas, são puristas falhados, que tentam forjar uma língua capanga e falsa".

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CHICO TORQUATO

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