A pandemia do novo coronavírus não foi o primeiro motivo que paralisou uma edição do Campeonato Potiguar. Convocações para a Seleção do Rio Grande do Norte, boicote, “desinteresse”, a Segunda Guerra Mundial e a pandemia de gripe espanhola também já interferiram na continuidade da competição estadual.
Às vésperas da retomada do campeonato, marcada para o próximo dia 10, o Agora RN ouviu o pesquisador do futebol potiguar Marcos Trindade sobre outras paralisações do Estadual. De acordo com Trindade, a competição teve que ser interrompida em outras seis ocasiões: 1918, 1928, 1929, 1936, 1942 e 1949. Confira:
1918
O Campeonato Potiguar de 1918, primeiro da história, teve que ser paralisado por um fator semelhante ao da atual edição: a pandemia de gripe espanhola, que matou 50 milhões de pessoas. Assim como no surto do novo coronavírus, atividades esportivas e comerciais tiveram que ser paralisadas para evitar a proliferação do vírus mais de 100 anos atrás.
Na ocasião, apenas três clubes jogaram a competição: ABC, América e Centro Esportivo Natalense, clube que posteriormente viraria o Clube Atlético Potiguar. O Centro Esportivo liderava o campeonato com 5 pontos, seguido pelo ABC, com 3, e o América, com 2. Mesmo com apenas um jogo restante, o Centro não foi declarado vencedor.
O Estadual só voltou a ser disputado em 1919, quando os três times se encontraram novamente. Desta vez, o América se saiu melhor e sagrou-se campeão da edição.
“Faltava apenas um jogo. Era entre ABC e América. A partida não aconteceu, pois, assim como agora, os governantes decretaram o fechamento de igrejas e praças. O futebol também foi atingido. Em outubro de 1918, era o primeiro campeonato e ele não foi concluído. Só em 1919 que aconteceu por completo, e o América foi campeão”, conta Marcos Trindade.
1928 e 1929
Nestas edições, o que “atrapalhou” a continuidade do Estadual foi o calendário apertado, devido aos jogos da Seleção do Rio Grande do Norte, que até o início da década de 60 representava o Estado em competições nacionais.
As seleções alegavam precisar de tempo para treinar com os jogadores e organizar os detalhes de campo. Isso tomou boa parte do tempo dos atletas potiguares, o que fez com que apenas os primeiros turnos dos dois anos acontecessem.
A competição contou com seis equipes no campeonato de 1928 e cinco no de 1929, todas de Natal. Nas duas edições, o ABC foi campeão.
1936
Dentre os três jogos disputados, dois foram do time abecedista, sendo a vitória sobre o alvirrubro e uma goleada de 11 a 1, contra o Santa Cruz. A outra partida foi uma vitória do Sport, também sobre o Santa Cruz, por 6 a 4. Como liderava, o ABC foi declarado campeão daquele ano.
“A competição teve apenas três partidas. Em uma destas, o time venceu o América por 6 a 0. O alvirrubro, então, se sentiu ‘desinteressado’ em concluir a competição”, relatou Marcos Trindade.
1942
O motivo principal da paralisação em 1942 foi a Segunda Guerra Mundial. A privilegiada posição geográfica do Rio Grande do Norte em relação à Europa e África fez com que os Estados Unidos montassem uma base no Estado. Com a determinação do estado de guerra contra Alemanha, Japão e Itália, através de um decreto do então presidente Getúlio Vargas, ficou inviabilizada a continuação do Campeonato Potiguar. Anterior a esta parada, o Estadual já havia sido interrompido com apenas oito jogos disputados, por conta, novamente, do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.
Aproximadamente a 20 Km da base americana (onde hoje é Parnamirim), Natal foi a única cidade do Brasil que sofreu interferência em seu futebol por causa da guerra. Como os clubes que disputavam a competição eram todos oriundos da capital, o RN teve que ficar sem a bola rolar naquele ano.
Esta edição não teve campeão definido. Além dos problemas com a guerra e o calendário, investigações sobre irregularidades nos clubes proporcionaram diversas discussões sobre a edição de 1942. Algumas equipes teriam usado “times filiais”, para serem favorecidos.
1949
Na última paralisação, antes deste Estadual de 2020, um “boicote” aconteceu no Campeonato Potiguar. Ligado ao América, Rui Barreto de Paiva assumiu a presidência da Federação Norte-Riograndense de Desportos (FND), antigo nome da Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF), o que gerou revolta entre as demais equipes que disputariam a competição naquele ano.
ABC e Santa Cruz foram contrários à competição com Rui Barreto como mandatário da federação. A competição foi iniciada sem as duas equipes, mas, no fim do mês de junho, houve uma intervenção na federação e o campeonato parou.
Uma nova eleição foi realizada em agosto e Carlos Bezerra de Miranda foi anunciado como novo presidente da FND. Todas as ações do mandato anterior foram anuladas.
Por não haver mais calendário para a disputa do Estadual, os clubes acordaram em deixar a competição mais compacta e jogar apenas um turno, na forma de pontos corridos. O América foi o campeão da edição.
“O clube deveria muito se orgulhar deste título. Foi um campeonato forçado a parar por brigas políticas na federação. O América tinha montado uma grande equipe para aquela competição. Considero um dos mais interessantes da história do alvirrubro, por todas estas intrigas”, conclui o pesquisador.
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