quarta-feira, agosto 20

APESAR DO ROQUE, SÓ O XEQUE-MATE RESOLVE
Existe no xadrez um artifício chamado “roque”, quando um dos contendores troca de lugar  o rei pela torre, pulando por cima de outra peça  e isolando a maior figura coroada  de sua equipe, protegendo-a ao menos por alguns lances.  Na sucessão presidencial em curso, forçada pela necessidade absoluta de entrar e  continuar no jogo, Marina Silva acaba de  “rocar”, isto é, livrar-se  dos  ataques iniciais  dos peões adversários, ficando por algum tempo  a salvo de investidas do outro lado. A   necessidade é de  preservar-se  nesses primeiros lances, quando  virou candidata presidencial.  O problema é que o “roque” consiste em manobra defensiva, quando se sabe que para dar o xeque-mate no oponente será  preciso avançar.
O que fará a ex-ministra e senadora  para depois de ficar   momentaneamente  a salvo na batalha, traçar a estratégia que a levará   da defesa ao ataque? Sabe que nem Dilma nem Aécio parecem dispostos a atirar a primeira pedra sobre ela, ao menos no início da nova fase da disputa presidencial.
De início, precisará calcular como, nesse estranho tabuleiro de três conjuntos de peças  em luta, atingirá sua principal  adversária, Dilma Rousseff, pondo fora de combate bispos,  cavalos, torres e peões governistas.  É preciso levar a contenda ao campo oposto, até com agressividade. Melhor estratégia não haverá senão demonstrar erros e recuos praticados pela administração dos companheiros.  Apontar onde falharam os propósitos do PAC 1 e como são aleatórios e fugazes os projetos do PAC 2. Quanto se gastou inutilmente no  desvio das águas do rio São Francisco, por exemplo, e quanto se perdeu com a privatização de portos, aeroportos e rodovias.   Quais os resultados  obtidos pelo palácio do Planalto no combate à corrupção? O que foi feito para interromper a escalada da impunidade? E para a preservação  do  meio  ambiente, em especial na Amazônia?
Sem poder sofrer ataques por haver-se desligado da administração federal ainda no governo Lula, a candidata agora socialista  sabe da importância de declarar guerra ao PT, muito  mais do que apenas defender-se. Denunciar que além de esmolas assistencialistas, os governos Lula e Dilma não avançaram um centímetro na ampliação dos direitos do trabalhador ou na defesa das investidas vitoriosas  dos conservadores.
Se verdadeiros os números positivos expressos na primeira pesquisa efetuada depois da morte de Eduardo Campos,  fazendo-a vencer Aécio  na simulação do primeiro turno, e Dilma no segundo, Marina tem consciência da importância de criar e sustentar um cerco implacável à cidadela oficial.    Precisa de argumentos poderosos para demonstrar o fracasso da administração  petista e,  em seguida,  alinhar suas soluções para o futuro do pais. Tudo em menos de um mês e meio. E sem descuidar do flanco por onde atacará Aécio Neves. São Paulo e Minas constituem terreno escarpado e hostil a Marina, estados infensos a deixar-se envolver pela rede de mudanças sociais e econômicas profundas com que ela poderia envolvê-los. Eduardo Campos percebeu a importância de sentar praça na Paulicéia, mas sua tática era de aderir primeiro  para conquistar depois, dificilmente capaz de ser adotada pela candidata.
De todas essas vãs considerações, emerge uma necessidade fundamental: Marina precisa elaborar imediatamente seu plano de governo, quer dizer, de candidata, com a dificuldade adicional de não contrariar nos fundamentos o que havia sido traçado por quem agora está substituindo. Em suma, um jogo de xadrez para gente grande…
Postado por Carlos Chagas

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