Ouro de tolo
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
A ofensiva do PT contra o governador e provável
candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, mostra que o
partido não compartilha da tese de que a presidente Dilma Rousseff
esteja virtualmente reeleita.
Dá sinal de que não considera de fato, como diz a todo instante, que a
candidatura de Campos esteja destinada a se desmontar nas divergências
com o grupo de Marina Silva, no pouco tempo de televisão e na
dificuldade de montar bons palanques regionais.
Se não, por que nessa altura o PT publicaria um artigo em sua página
no Facebook chamando o governador de tolo, traidor e oportunista por ter
se beneficiado da aliança com o ex-presidente Lula da Silva para se
projetar nacionalmente?
Um ataque aparentemente algo gratuito e evidentemente descolado da
realidade. Eduardo Campos não é um tolo. Se na concepção do PT o é, fica
a dúvida sobre a razão pela qual o partido insistiu tanto em que ele
continuasse aliado ao governo federal com a promessa de que teria apoio
dos petistas para concorrer a presidente em 2018.
Exatamente por não ser tolo é que recebeu a proposta com dois pés
atrás e uma indagação: "Se ainda tem gente aguardando o cumprimento de
acordos de 2002, vou confiar em acertos para 2018?".
No quesito traição não conviria o PT se estender, pois foi o partido
quem rompeu o acerto feito com o PSB para a eleição para a prefeitura do
Recife, lançando o nome de Humberto Costa (contrariamente ao que havia
sido combinado entre Lula e Campos) e levando o governador a bancar uma
candidatura própria.
Venceu, resolveu buscar caminho independente e o que isso tem de
extraordinário? Foi se afastando da unidade de oposição debaixo do
guarda-chuva do então MDB que o PT fez carreira e chegou à Presidência.
Todas as forças políticas têm o mesmo direito, pois não?
O episódio da prefeitura do Recife remete à questão da projeção
nacional e à acusação de oportunismo. O governador de Pernambuco só
começou a construir um nome nacional a partir de seu distanciamento do
PT. Portanto, se benefício houve, não foi devido à aliança, mas à
ruptura.
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