GARANTIA NÃO HÁ
Carlos Chagas
Garantida não está, como nada neste mundo, a reeleição da presidente Dilma. Mas a previsão, caso nenhum inusitado aconteça no país e no governo, é de que o segundo mandato será conquistado em outubro. A pergunta que se faz é se teremos uma continuidade fiel da atual administração federal ou se a presidente imprimirá alterações de vulto na arte de governar, começando pela definição de um ministério voltado para as necessidades nacionais, livre de imposições e interesses partidários.
É claro que por enquanto Dilma não pode abrir o jogo, mesmo se por hipótese, determinada a mudar. Afinal, precisa do apoio dos partidos que hoje gerem ministérios como feudos particulares. Para reeleger-se, necessita das legendas que a apóiam a um custo muito alto. Receberá muito mais tempo do que os concorrentes, no horário de propaganda eleitoral gratuita pela televisão.
Admitindo-se que a partir de outubro, reeleita, a presidente se disponha a formar um novo governo, será preciso, antes, verificar como reagirão os partidos de sua base parlamentar, então postos para fora. O PT não terá condições de retaliar, já que é o partido de Dilma. O PMDB procurará reduzir o prejuízo de perder quatro ou cinco ministérios ocupados por seus parlamentares, se puder participar da indicação dos substitutos, mesmo apolíticos. O vice Michel Temer não deixará de operar, ainda que em condições adversas.
Quanto aos demais, serão carga deitada ao mar. PTB, PR, PP, PDT, PSD e penduricalhos ficarão pendurados no pincel, sem escada. Poderão, numa primeira etapa, tentar a formação de um bloco dito “independente”, na realidade bloco anti-Dilma. Como a goela de cada uma dessas legendas é profunda, não conseguirão unidade. O mais provável é a debandada de suas bancadas, presumindo-se que mantenham em outubro a mesma proporção de hoje. O PT estará de braços abertos.
Especula-se sobre um possível viés ideológico capaz de ser aprimorado ou até inaugurado pela presidente. Ela será pressionada pelas elites hoje empenhadas na “guerra psicológica” para promover mais privatizações e adotar a cantilena de que o Brasil precisa de “reformas”. Lógico que as “reformas” deles, ou seja, supressão dos direitos trabalhistas que sobraram de recentes devastações, bem como reafirmação dos postulados neoliberais exigidos pelos meios financeiros privados.
Quem sabe, no reverso da medalha, os novos caminhos de Dilma conduzam a outras metas? Atualização do salário mínimo acorde com os dispositivos constitucionais, participação dos empregados no lucro das empresas, limitação de remessas de lucros para o exterior, taxação ampla de atividades especulativas, proibição de o BNDES emprestar a quem não precisa, retomada pelo poder público do controle de empresas e atividades consideradas essenciais para a segurança nacional, efetiva distribuição da terra e quantas reafirmações a mais, ligadas à ideologia nacionalista?
Sonhar ainda não está proibido, mas pode ser perigoso levar muito adiante o cavalo branco da imaginação. Não faltarão sociólogos para prever que o segundo mandato será uma cópia do primeiro. Vale aguardar.

Nenhum comentário:
Postar um comentário