terça-feira, junho 17

A SABEDORIA QUE CHORA


Há uma sabedoria que, de tanto se afirmar, se esqueceu de sentir. Ela habita tratados densos, catedras elevadas e discursos ruidosos - mas não toca. Não acolhe. Não se curva.

É a sabedoria que se descola da vida, da experiência cotidiana, do olhar da criança que enxerga no ordinário a beleza que nos escapa. Uma filosofia, por vezes, vazia de alma, incapaz de amar, de estremecer diante do sofrimento alheio. Uma razão que, ao se ver engrandecida, despreza o pequeno, o ingênuo, o silencioso.

Em tempos de verdades gritadas, há um risco sutil - e perigoso - de nos tornarmos surdos aquilo que é essencial. A verdade, quando não se arrepende, pode se tornar tirana. E há palavras que, ditas sem dor, não dizem nada.

Peço - e não em prece, mas em reflexão profunda - que me seja dado o discernimento de fugir dessas armadilhas da inteligência estéril. Que eu me afaste das vezes que falam por falar, do discurso que não aquece, da eloquência que não consola.

Desejo, sinceramente, que a humildade continue a ser minha guia: essa virtude discreta, mas poderosa, que ilumina sem ofuscar. Que eu nunca perca a capacidade de escutar com atenção, de perceber a humanidade contida no silêncio do outro. Que minha busca por sabedoria não se afaste da ternura. Que eu me permita chorar.

Pois é essa sabedoria - a que chora, a que sonha, a que aprende com os tropeços do caminho que desejo cultivar. Aquela que reconhece, com reverência, que nos olhos de uma criança repousa uma verdade que livro algum explica.

E talvez, ao fim, essa seja a maior lição: que a verdadeira grandeza sabe se curvar. E que o amor simples, esse que quase sempre ignoramos por ser pequeno demais para os tratados, é, na verdade, a lança mais preciosa contra aridez do mundo.

CÍCERO MELO

CHICO TORQUATO

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