segunda-feira, dezembro 2

CULTURAS EXÓTICAS GANHAM ESPAÇO E CRESCEM 400% EM CINCO ANOS NO RN

 


Larissa Duarte

Repórter


O Rio Grande do Norte tem se destacado na exploração de cultivos exóticos, com diversas culturas alternativas ganhando força no estado. Seja para diversificação da produção agrícola ou para atender novas demandas de mercado, as oportunidades estão sendo aproveitadas por produtores.

Do eucalipto ao cacau, passando por coco, maracujá e açaí, o potencial de cada uma dessas culturas é vasto e vem registrando um crescimento de 400% nos últimos cinco anos, segundo estimativa da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (SAPE). Diante desse sucessivo aumento, produtores e autoridades têm se unido para fortalecer este novo setor do agronegócio potiguar.

O Ecossistema Local de Inovação do Agronegócio (ELI Agro), fomentado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio Grande do Norte (Sebrae-RN), é uma das iniciativas que integra ações estratégicas para apresentar essas culturas a outros produtores e destacar o potencial que o estado oferece nesse setor. De acordo com Elton Alves, gestor da área de culturas exóticas do Sebrae-RN, essa atuação é fundamental para fortalecer a inserção de novas culturas no mercado.
 
Fazenda Nascença – Foto: Adriano Abreu

“Temos como principal linha de atuação a capacitação do produtor rural para ele enxergar as oportunidades do mercado, com uma chance dele fazer um negócio bem-sucedido. A gente oferece consultoria na propriedade e condiciona a usar ferramentas de gestão, para a melhor condução desse projeto”, explica Elton.

A criação desse interesse de mercado surge, por muitas vezes, de visitas técnicas promovidas pelo Sistema, que une um produtor com experiência e outro com interesse em abarcar nessa oportunidade. Um dos produtores auxiliados diretamente foi Eudes Varela, responsável pela Fazenda Nascença, que foca na cultura de coco e maracujá.
 
Eudes Varela, produtor responsável da Fazenda Nascença – Foto: Adriano Abreu

Com 4,4 mil plantas por hectare em uma propriedade localizada em Ceará-Mirim, ele trabalha com uma retirada de 50 toneladas por ciclo apenas no maracujá e uma forte margem de contribuição que supera os 50% de lucro. “Trabalhamos com produtos premium, eles têm uma qualidade melhor do que o normal. Nossos compradores vêm do Ceará, de Pernambuco e da Paraíba, que fazem a oferta, mas colocamos sempre uma parte para abastecer os locais pela valorização da região”, afirma.

Para os próximos ciclos, Eudes já planeja implementar o cultivo do cacau e do açaí, produtos estes que já são praticados por Rodrigo Moura e Carlos Frederico, sócios-proprietários do Sítio Ribeirão. A dupla iniciou com o cultivo de coco no município de Pureza, mas foi em 2013 que foram dados os primeiros passos experimentais do açaí e, posteriormente, em 2021 com o cacau.
 
Produção de Açaí no Sítio Ribeirão – Foto: Adriano Abreu

“Quando apostamos no açaí, todo mundo ficou surpreso porque ninguém imaginou que aqui daria açaí. Fizemos uma missão no Pará, visitamos fazendas e indústrias, e a gente plantou o açaí e viu que o resultado foi muito bom, tanto em questões de lavoura, quanto de mercado”, relata Rodrigo. Em 2024, o açaí já representa cerca de 70% do faturamento dos sócios, alcançando até 14 toneladas por hectare no ano-safra.

Para se diferenciar do Pará, estado com maior reconhecimento no cultivo do açaí, e crescer no mercado, o Sítio Ribeirão prioriza uma alta velocidade de colheita e processamento, conservando as principais características naturais da fruta. “Dentro de 24 horas nós colhemos, processamos, fazemos o congelamento e mandamos para as indústrias”, explica Rodrigo. Até novembro deste ano, esse açaí já foi exportado para cinco países da Europa e também chega a estados brasileiros como São Paulo e Paraíba.
 
Rodrigo Moura e Carlos Frederico, ambos sócios e proprietários do Sítio Ribeirão – Foto: Adriano Abreu

“A gente emprega seis famílias aqui na fábrica e mais 25 na propriedade de 80 hectares, mas além dos empregos diretos, também temos os indiretos, seja através de fornecedores ou de pequenos produtores da região que passaram a produzir a fruta e fornecer para a gente. Isso também gera renda para a região”, afirma Carlos Frederico. Com essa produção crescente e uma demanda que não consegue ser totalmente suprida, os sócios já estão elaborando um projeto de expansão que também beneficie pequenos e médios produtores do Rio Grande do Norte.

Fora dos frutos, a cultura exótica de eucalipto também vem ganhando destaque no Rio Grande do Norte a partir da Fazenda Futuro Verde, liderada por Michael Grieshaber, um alemão que escolheu as terras potiguares para iniciar o primeiro plantio em 2013. “Eu cheguei aqui e vi essa necessidade do mercado com madeira. Aqui tinha muita condição e espaço para fazer o plantio, então vi potencial de colocar em prática”, explica. O negócio, localizado em uma propriedade em Pureza, já fatura R$ 4 milhões por ano, com registro de crescimento recorrente de 100% por igual período.
 
Fazenda Futuro Verde – Foto: Adriano Abreu

Na economia local, Michael gera 40 empregos diretos para moradores da região, enquanto a venda é focada para a indústria da construção e o setor de turismo, com a utilização em pousadas e restaurantes.
 
Michael Grieshaber, proprietáro da Fazenda Futuro Verde – Foto: Adriano Abreu

Poder público em apoio

No cenário de desenvolvimento, o suporte dos entes públicos é considerado essencial. Guilherme Saldanha, secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Pesca (SAPE), também participa da Rota de Culturas Exóticas do ELI Agro e visualiza esse cultivo como uma grande oportunidade para diversidade da economia. “Na hora que você coloca culturas exóticas e que existe um mercado fantástico atrás disso, a gente, no Rio Grande do Norte, aproveitando a irrigação, as condições climáticas e a proximidade com alguns mercados consumidores e com a agroindústria, conseguimos gerar emprego, investimento e uma série de coisas boas”, defende.
 
Secretário Guilherme Saldanha – Foto: Adriano Abreu

O destaque da cultura exótica também alcança pastas nacionais. Segundo Manoel Neto, superintendente federal do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no RN, esses cultivos chegam com uma grande expectativa de abertura de mercado e expansão econômica. “Por ser uma experiência nova, estamos realizando reuniões para adequação de linhas de crédito para esse tipo de culturas consorciadas. Vai dar resultado e, com certeza, já está tendo nosso apoio”, afirma. Entre políticas públicas desenvolvidas pelo Governo Federal estão os Planos Safra e ABC.
 
Tribuna do Norte

Nenhum comentário:

Postar um comentário