Imagem gerada por inteligência artificial
Por Tales Augusto*
“A mídia com todo seu poder de penetração em todos os meandros político-socioculturais pode ser um instrumento eficaz na educação ou doutrinação, eis porque estar atento as suas intervenções e atuações”. Esta frase da escritora Mônicka Christi sintetiza a importância da comunicação, mais especificamente da mídia como possível meio para educação ou manipulação.
Só para lembrarmos e não esquecermos de onde vem o termo Coronelismo. O final do século XIX e as primeiras décadas do século XX foram marcadas no Brasil pela prática política local do Coronelismo, associado a posse de terras.
Isto poderia possibilitar o mandonismo, forçando a população a votar no Coronel ou a quem ele apoiasse nas esferas local, estadual e nacional (voto de cabresto) e manter a relação do clientelismo com a população. A área de atuação do Coronel era denominada curral eleitoral. O voto no Brasil era restrito aos letrados até a Constituição de 1988 e o Brasil até a década de 1940 tinha predominantemente uma população rural e iletrada.
aNas décadas seguintes a de 1940, o Brasil passa por transformações e segundo informações do site do IBGE através do Censo de 2010, 84,35% reside em cidades. Provavelmente este percentual dos brasileiros que residem nas cidades venha aumentar mais ainda. Ainda é importante que conste que o título de Coronel também teve forte atuação nas Regências durante os interstícios entre o Primeiro e Segundo reinados.
Se a prática política do Coronelismo ligada ao Brasil rural e que consta nos livros didáticos não mais existe. Desde a década de 1990 o termo Coronelismo Eletrônico surge, ao invés da posse de terras, ser detentor de uma concessão pública de rádio ou televisão pode auxiliar para se obter ou manter o poder político. Após o fim do Período Militar surgiu uma espécie de Coronelismo de Novo Tipo como afirma Lima (2007), o Coronelismo Eletrônico. Contudo, é preciso voltar a época de Vargas para compreendermos melhor o papel dos meios de comunicação de massa na política e para os políticos.
No Brasil o uso dos veículos de comunicação de massa teve início na década de 1930 e no Estado Novo através de Getúlio Dorneles Vargas o uso para fins políticos e pessoais. Ele entendeu o poder que a mídia poderia exercer sobre as pessoas num país de dimensões continentais e a maior parte da população sem letramento. Ainda na década de 1930, o programa radiofônico A Hora do Brasil estreava, programa que servira como base para a autopropaganda varguista, defesa do Estado Novo e ataque aos inimigos do caudilho. Quase um século depois, o programa ainda existe e tem outra denominação, A Voz do Brasil.
Outro que exercera forte atuação na mídia foi Assis Chateaubriand, dono de dezenas de jornais, rádios e que fundara o primeiro canal de televisão do país, a TV Tupi no ano de 1950. Chatô, chegou a ocupar cargos políticos e sabia o quanto o poder da mídia poderia o beneficiar pessoalmente ou aos seus aliados. Ele marca uma era, possuindo um conglomerado de veículos de comunicação diversos.
Através do rádio e televisão os políticos poderiam chegar a um público em quantidade jamais vista, enquanto jornais e livros necessitam de letramento. O rádio e a televisão necessitam apenas que o ouvinte ou telespectador acompanhe a programação, abrindo possibilidades para aqueles que trabalham na área e principalmente para os donos desses veículos de comunicação. Não são proprietários ao pé-da-letra, esses canais de comunicação são concessões públicas e possuem regras para a concessão, podendo sofrer punições ou até a perda (não renovação da concessão) do canal radiofônico ou televisivo.
Em relação a construção do conceito de Coronelismo Eletrônico há uma complexidade, de certa forma, tornando-o de caráter interdisciplinar. Havendo a realização deste fenômeno através da concessão pública cedida a um político de um canal de radiodifusão ou televisão. PIERANTI (2008) reflete que, “os alicerces do conceito de coronelismo eletrônico. Delineado, por exemplo, por Santos e Capparelli (2005), baseia-se também na inexistência de instituições políticas adequadas, ou melhor, em um vazio institucional-legal interessante a uma minoria favorecida pelo poder concedente. Por não estar diretamente ligada à estrutura fundiária– ainda que não haja qualquer impeditivo claro para isso, já que os mesmos que ocupam posição de destaque no que se refere à terra, podem fazê-lo no que tange à radiodifusão –, ganha o qualificativo eletrônico, mais consoante com o objeto em estudo. A relação com o público eleitor, nesse sentido, também se altera em relação ao conceito de coronelismo tal como definido por Leal (1997): ajudas financeiras e, consequentemente, o clientelismo tradicional aliam-se à difusão constante de mensagens, a serem recebidas por um público, em grande parte, semianalfabeto e, espera-se, igualmente devotado à manutenção do status quo.
Contudo, em tempos em que as big techs possuem poder semelhante ou superior aos Estados, tendo suas plataformas como possibilidade de desconhecidos serem alçados a categoria de celebridades locais, estaduais, regionais, nacionais, quiçá internacionais. Podendo fazer cortes nas suas publicações, mentir sobre a realidade, ou até num “País”, torna-se celebridade onipresente. Concomitantemente, profissionais de imprensa surgem, com ou sem formação acadêmica, não importa, o engajamento é o que se busca, em muitos casos, custe o que custar. Poderíamos até pensar que este último fato citado, teria contribuído para a democratização das informações e retirar das mãos dos donos das concessões de rádio e tv, o monopólio da informação e possível manipulação.
Todavia, a liberdade tem seu preço e até sobrevivência. Agora relato casos de uma das minhas cidades (já que moro em Mossoró e em Apodi), o “País de Mossoró” tem não um prefeito, praticamente um Rei e os que ousam dizer que “O Rei está nú” ou que ele não é perfeito, sofre perseguição. Uma vez comissionado, não ouse jamais ao menos curtir uma publicação que o mandatário local esteja sendo criticado. Entendo que os comissionados muitas vezes ou até sempre só digam ou façam o que vem do Palácio da Resistência mandam, precisando pagar seus boletos e em meio a uma cidade que pouco gera, incentiva ou fomenta empregos na iniciativa privada. É mais prudente que a prefeitura se torne cabide de empregos e assim, consiga manter sobre seu açoite, aqueles que necessitam trabalhar.
Dentre os trabalhadores que acabam mesmo que independentes, seja via pessoa física ou através de pessoa jurídica, são os profissionais da imprensa. Só que raramente o glamour de ser conhecido é revertido em remuneração justa e digna e a necessidade de patrocínios diversos serem possiblidade de melhorar seus pagamentos. Dentre as fontes, há também as propagandas de órgãos públicos diversos e até dos entes da federação. No País de Mossoró, a dualidade é nítida. Receber do município dinheiro e obedecer ao Prefeito Tiktoker ou ser um ponto fora da curva e acabar se tornando persona non grata ao “Omí do Xapeú de Couro”. Conheço muitos que fazem parte da imprensa mossoroense e são gente da melhor espécie, entendo demais que estão calados diante do possível maior escândalo da política mossoroense de um prefeito que o jornalista Bruno Barreto revelou, OS SEGREDOS DE ALLÝSON.
Várias foram as coletivas com a imprensa e não houve um único jornalista, blogueiro, digital influencer que tivesse ou tenha coragem de perguntar sobre as denúncias contra o prefeito. Ele deve explicações, inclusive se for para desmentir o jornalista Bruno Barreto.
A liberdade tem seu preço, mas a História existe para que as pessoas não esqueçam futuramente o que vivemos em Mossoró e enquanto Historiador e Mossoroense, estou aqui para questionar e repetir, “O Prefeito está nú, mas pouquíssimos tem coragem de dizer isso”.
*É professor efetivo concursado Federal, lotado no IFRN Campus Apodi, , Cirstão Católico, Escritor, Mestre em Ciências Sociais e Humanas com estudos sobre A Ascensão Social de Pessoas Oriundas das Classes Populares e através do Êxito Escolar, autor do livro História do RN para Iniciantes, poeta e resenheiro nas horas vagas. Lecionando na rede pública e privada desde 1999.
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Fonte: Blog Bruno Barreto
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