sexta-feira, maio 9

MÃE EU NÃO TE VEJO


" Lembro-me de meu filho me olhar nos olhos e dizer ' Mãe eu não te vejo. Esta não és tu.' Nesse momento eu senti que me quebrei em mil pedaços. Eu estava lá com meu filho fisicamente, mas emocionalmente desligada.

Tentei ser forte, mas só estava sobrevivendo.

Tudo vem de um fardo da minha infância. Cresci como filha única em uma casa onde a tristeza flutuava como música de fundo. Minha mãe me teve muito jovem, foi rejeitada pela sua família, e criar-me sozinha foi o seu ato de amor mais radical.

Meu pai desapareceu cedo. Prometia visitar-me e depois não chegava. Essa ferida ficou. Quando eu era pequena, eu capotei na música porque era o único lugar onde eu me sentia acompanhada. As vozes que eu ouvia eram minhas amigas. Elas cantavam para mim o que eu não sabia como dizer.

Quando me divorciei. Durante essa fase eu me escondia. Dormia o dia todo. Cancelei planos. Chorava sozinha no chão. Como se o mundo tivesse acabado. Eu não sabia que o pior não era o que estava acontecendo comigo, mas que ele estava assistindo. Senti-o. E então ela disse-me essa frase.

" Não te Vejo." Gravei um álbum, mas não como um álbum, mas como um abrigo. Me fechei com pessoas em quem confiava, voltei para terapia e me obriguei a me livrar de tudo que não queria herdar para ela.

Mudei meus padrões, minhas reações, minhas maneiras de desaparecer. Escrevi música imaginando o dia em que meu filho será adulto e entender que sua mãe também estava aprendendo a viver. Hoje não canto desde a ferida aberta, mas sim de cicatriz. Com voz quebrada e alma inteira, aprendi a ficar, a estar presente, a me perdoar... e deixar ir."

GABRIEL CARCIA MARQUEZ

CHICO TORQUATO

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