Pepe Mugica partiu nesta terça-feira, aos 89 anos, como quem apaga a luz de um quarto simples depois de uma longa conversa com a história. Sai de sena um homem que não precisava gritar para ser ouvido. Seu silêncio final ecoa como um trovão manso sobre a alma da América Latina.
Guerrilheiro nos tempos em que a coragem se media pelo risco de morrer por uma ideia. Prisioneiro por doze ano, enterrado vivo em celas úmidas, onde o tempo escorria pelas paredes. E ainda assim, saiu de lá inteiro. Inteiro de fé, de teimosia, de flor. Porque Mugica, antes de tudo, era um homem-folha: leve, mas com raízes fundas.
Foi presidente de terno barato e alma cara. Recusou mordomias, dirigiu um fusca, plantou flores com a mulher e, entre um discurso e outro, cuidava da terra. Nunca foi perfeito e que bom. A perfeição entorpece. Mugica era filho como nós, mas imenso onde mais importa: o coração.
Falava como quem colhe, não como quem impõe. Dizia que a felicidade está no tempo livre, não nas vitrinas. Que a liberdade é um exercício diário de desapego e que a política deveria ser uma extensão da ética, não de ego. Numa era de Selfies e cifrões, ele era um homem de sementes.
Hoje, sua ausência deixa uma presença ainda ainda maior. O velho Pepe vai embora como foi: de forma serena, sem espetáculo. E nos deixa a missão quase impossível de seguir sua trilha de humanidade. Ele não queria seguidores, queria gente desperta.
Despede-se Mugica é como se despedir de um avô rebelde, dessas que sentam a sombra de uma árvore e dizem verdades que o mundo esqueceu. Não, ele não morreu. Foi cuidar de outra parte do Jardim.
Hasta sempre, PEPE, o Senhor nos ensinou que resistir também é um ato de ternura.
ALESSANDRA ALMEIDA
CHICO TORQUATO
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