Na minha infância, as Semanas Santas, na terra dos poetas - Assu/RN, representavam resas, igreja, silêncio, retiros, procissões e comilança.
Tudo começava com os retiros, em que os participantes passavam o dia inteiro na igreja, rezando, confessando e ouvindo pregações.
Os retiros eram organizados por gênero e faixa etária: os senhores (homens casados); as esposas; os rapazes; as moças; as meninas e os meninos. Os senhores geralmente compareciam de terno.
O principal terror das crianças era a figura do padre que comandava os procedimentos. As vezes apareciam vários padres. As filas para as confissões eram tensas. Os que saiam do confessionário contavam para os outros o que o confessor perguntou e o que eles haviam dito.
O Domingo de Ramos era marcado pela missa solene com o detalhe de o sacerdote espergir água benta nos ramos de palmeiras, lavadas pelos fiéis.
Sempre pedíamos um ramo na casa do vizinho possuidor de uma palmeira no seu jardim. Alguns exagerados levavam galhos enormes. Ao voltar da igreja, aquele ramo abençoado era exposto ao lado do santuário, e ali ficava o ano inteiro.
Os dias principais - a quinta e sexta-feira - eram regidos pelo silêncio, só rompidos na hora dos almoços, tão esperados e repletos de especiarias. Ainda tínhamos o café com pamonhas e canjica.
Sexta-feira Santa só se falava sussurrando, porque Jesus estava com dor de cabeça. A casa não era varrida, não se pegava em dinheiro nem se ouvia música. Muito tempo depois, fui a um comércio, com apenas meia porta aberta, comprei dois produtos. O dono não recebeu o dinheiro. Paguei no outro dia.
Sábado de Aleluia, logo ao amanhecer, nossa atividade era percorrer a cidade para ver os Judas pendurados e ler os testamentos expostos. Geralmente as gozacões atingiam os políticos locais.
Domingo da Ressurreição era o dia mais festivo. Todos vibrando com a subida de Jesus ao céu, corríamos a igreja para receber a comunhão e ouvir uma nova mensagem de vida.
Por: LOURIVAL SEREJO
CHICO TORQUATO
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