Um parágrafo bem escrito, um verso emocionante. Isso sempre me proporcionou o mesmo prazer que uma taça de vinho ou uma dose de Bourbon de madrugada, um gol no meio da quadra e vendo o goleiro inutilmente saltando já desconsolado, uma mulher me olhando nos olhos e se enroscando de manhã quando o álcool da noite passada ainda te deixa levemente entorpecido.
A literatura pra mim sempre foi fundamental e inegociável. Lembro-me da noite que fui até o Sesc Campo Limpo (numa produção dos amigos Carlos Careqa e Jica) ler alguns textos do grande Carlos Bukowski.
Quando me disseram que o ônibus da escola tava vindo, fiquei apreensivo: " pobres garotos. Eles estão sendo rebocados pra cá pra ouvir um sujeito sentado no sofá lendo textos pra eles. Com certeza, não é a ideia que eles tinham de diversão pra essa quinta-feira a noite".
E a garotada chegou. Ninguém ali parecia ter completado 18anos ainda. Fiquei ainda mais apreensivo. Sentei no sofá e comecei a ler. No início, alguns aplausos tímidos. Acho que eles não sabiam se era de bom tom aplaudir ou não. Não que me importe exatamente com isso.
Na maioria das minhas peças, o elenco nem volta pra receber aplausos. Só quero fazer bem o meu trabalho. Mas era importante pra mim saber se eu não os estava chateando muito. Depois do terceiro poema, eles estavam totalmente a vontade, aplaudindo, rindo dos versos mais engraçados e cínicos e gritando ao final de cada leitura " Ei esse é f...! fui ficando feliz de estar ali lendo pra eles.
No final, levantei, fui aplaudido e disse que queria entregar as cópias dos poemas que tinha lido pra quem tivesse a fim de ler com mais cuidado em casa. Acabou que se formou um amontoado de garotos na frente do palco ávidos por uma cópia de um poema do velho.
Distribui um pra cada um e muitos ficaram sem, infelizmente. Queria ter um livro pra oferecer pra cada um deles. Parecia que eu tava distribuindo jogos de Vídeo Game. Aí um deles chegou chegou pra mim e falou: " Tava du C.... Só faltou um Jazz de fundo, hem?"
Expliquei pra ele que o Sesc tava gravando e não podiam usar música por conta de direitos autorais. Fui embora, feliz. A literatura ainda pode mudar vidas ou pelo menos, permitir que se respire com menos dificuldade de vez em quando. A literatura, essa sim, ainda merecidamente respira. Pode sorrir, Velho Safado.
MARIO BORTOLOTTO
CHICO TORQUATO
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