quinta-feira, março 20

O MAIS FIEL DE TODOS OS COMPANHEIROS


Argos, o cão que esperou 20 anos pelo retorno do seu dono para poder morrer é uma das mais tocantes demonstrações de lealdade que o mito grego preserva.

Ulisses o herói que sobreviveu as mais cruéis batalhas e os desafios épicos da Odisséia, retornava finalmente a sua amada Itaca. Não era mais o guerreiro robusto e vibrante que partiu para a guerra de Troia;

O tempo é a guerra haviam marcado profundamente seu corpo e sua alma. Sua esposa não o reconheceu. Entre a multidão de rostos que passavam, ninguém sabia quem era aquele homem envelhecido e disfarçado como mendigo. Apenas um ser, silencioso e fiel, viu além do tempo e das aparências.

Argos o cão que esperou por duas décadas, mesmo cego, enfraquecido e a beira da morte, soube que Ulisses estava de volta. A ligação entre os dois transcendia o tempo, a guerra, e até mesmo o disfarce do herói.

Quando Ulisses cruzou os portões de sua terra Natal, Argos, exausto pelos anos de espera, arrastou-se até seu mestre, com o último fio de energia que lhe restava. O olhar de Argos foi o reconhecimento silencioso que Ulisses nunca precisou pedir.

Sem poder revelar sua verdadeira identidade para proteger sua missão, Ulisses não pôde chama-lo, mas suas lágrimas denunciaram a dor e o amor contidos naquele reencontro.

A cauda de Argos balançou uma última vez; um movimento lento carregado de anos de espera e dedicação. E ali nos pés do herói que tanto aguardara, Argos deu seu último suspiro.

A sua morte simboliza algo maior que a lealdade canina: é a prova que o amor verdadeiro, mesmo silencioso e paciente, jamais se apaga. Como o mais fiel de todos os companheiros. Argos morreu apenas quando sua missão estava cumprida. O seu dono estava de volta, e só então, o cão pode descansar.

CHICO TORQUATO

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