Quando foi que a gente desaprendeu a sonhar?
Quando foi que a gente anuviou o olhar e parou de contar estrelas, plantar roseiras, ver borboletas no jardim?
Quando foi que a gente se engessou e não soube mais desenhar na areia, rabiscar o chão, as paredes, pintar primaveras?
Quando foi que a nossa voz se calou, o nosso canto adormeceu e a gente soltou a mão, saiu da ciranda, encerrou a brincadeira?
Onde foi que a gente se perdeu? Em quais esquinas a gente se perdeu?
Onde ficaram os dias de chuva, a cerca florida, a terra molhada, o namoro no portão?
Onde se esconderem os suspiros, a canção que vinha de longe, os verões intermináveis?
Quando foi que a gente desaprendeu a sonhar? E fechou a janela. E escureceu a paisagem. E esqueceu como se escreve sau-da-de.
Quando foi que a gente deixou de viver, desaprendeu a respirar, se aprisionou nas urgências, na pressa dos dias?
Quando foi que a gente deixou de viver? Viver de verdade?
Chico Torquato
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