Nego Veio e Luzivan Venâncio (FotoS: Felipe Gibson/G1)
"Tenho 52 anos, todos eles lidando com a terra. Hoje, por incrível que pareça, quem me dá dinheiro é o vento". O agricultor Francisco Ferreira ajuda a entender o sopro de mudança que a energia eólica representou para os proprietários das terras localizadas na região do Mato Grande, no Rio Grande do Norte. Lá estão instalados grandes cata-ventos que geram parte da energia consumida em todo o Brasil.
De cinco anos para cá, o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias Renováveis (Cerne), organização sediada no Rio Grande do Norte, estima que o estado recebeu entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões em investimentos no setor eólico.
Cada aerogerador instalado nas terras, dependendo da capacidade de produção, pode gerar até R$ 1.000. O valor corresponde a um percentual da receita de cada máquina. Os contratos preveem pagamentos fixos por mais de 20 anos e são renováveis. Essas "fazendas solares" chegam a ganhar R$ 60 mil por mês. Muitos aplicam os rendimentos na agricultura.
De acordo com os últimos dados do Cerne, são 67 parques de energia eólica em operação produzindo energia comercialmente, além dos empreendimentos em construção e contratados em leilões, o que mantém o estado como líder nacional em projetos para geração de energia a partir dos ventos.
O potencial potiguar e os investimentos no setor têm reflexo direto para os donos das terras por onde passam os ventos mais fortes e constantes do estado. A realidade mudou na mesma proporção do rendimento das propriedades, antes pouco produtivas. Em alguns casos, a instalação dos aerogeradores salvou fazendas da venda.
A reforma foi um dos frutos do dinheiro proveniente dos 25 aerogeradores instalados em suas terras. Dos equipamentos na propriedade, 20 estão gerando energia e cinco estão em construção. Os cata-ventos garantem R$ 20 mil de renda.
Nego Veio saiu de plantações de tomate, beterraba e pimentão para receber a equipe do G1. "Antes só tinha castanha. Agora planto tomate, pimentão, mamão, beterraba. A chegada da eólica melhorou a minha vida. Tanto que eu posso ajudar outras pessoas. Tenho até funcionários hoje", ressalta.
O parâmetro usado por ele para mostrar a melhora é simples. "Quando começou essa história de eólica, nosso povoado tinha cinco carros por aí. Hoje, tem mais de 30 carros", calcula.
Além do percentual de faturamento dos aerogeradores, Nego Veio diz que ganhou indenizações pelas linhas de transmissão de energia que passam por seus mil hectares de terra. "Gasto tudo em funcionário e dentro da propriedade. Comprei uma casinha e um carrinho [uma picape] também. O resto, os genros 'comem'", brinca o pai de duas filhas.
A alguns quilômetros das terras de Nego Veio está a propriedade de Luzivan Venâncio da Costa, de 51 anos, que possui uma propriedade de 440 hectares.
Por ter 19 aerogeradores instalados nas terras, ele recebe R$ 19 mil mensais. "Há 20 anos, cada hectare valia uns R$ 100. Agora não vendo por menos de R$ 10 mil", afirma.
O dinheiro gerado pelos cata-ventos gigantes é reinvestido na propriedade e no estudo dos dois filhos. "São investimentos que servirão para o futuro. Realmente nem sonhava com esse tipo de coisa", conta.
Postado por Assis Silva
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