quarta-feira, dezembro 21

Crispin Recordando Augusto dos Anjos em Sua Coluna do Jornal de Fato


Poesia
Tome, doutor, esta tesoura e corte
A minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração depois da morte?

Ah. Um urubu pousou na minha sorte,
Também nas diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte.

Dissolva-se, portanto, a minha vida
Na aberração de uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo

E fique no abstrato das saudades
Batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo.

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