sábado, dezembro 31

Robinson: “Rosalba foi contaminada pelo veneno de Agripino"

 
Vice-governador concede entrevista a O JORNAL DE HOJE, onde relata detalhes de seu rompimento com a governadora Rosalba Ciarlini, a criação do PSD, a participação do senador José Agripino no episódio, a posição do partido em Natal e Mossoró e seu futuro político.

 “Considero que o que aconteceu foi a maior ingratidão e injustiça já vista na história política do Rio Grande do Norte. No primeiro ano de governo, o vice-governador é obrigado a sair do governo por ter cometido o equívoco de confiar num grupo político que só viu a importância dele quando precisou da vitória”.

Com esta frase, o vice-governador Robinson Faria (PSD) define seu sentimento em relação ao governo e ao grupo liderado pelo senador José Agripino Maia (DEM) e pela governadora Rosalba Ciarlini (DEM), após o rompimento político ocorrido em outubro passado. “Nunca vi uma injustiça e uma ingratidão tão contundente”, afirma o presidente estadual do PSD nesta entrevista exclusiva a O JORNAL DE HOJE, em que aborda, pela primeira vez, de forma distanciada, um dos fatos políticos mais relevantes do ano de 2011.

Ao analisar o primeiro ano de administração Rosalba Ciarlini, o vice-governador diz que “o governo não teve praticamente conquistas para anunciar à população”. Fazendo menção por dever de Justiça “ao comportamento da governadora no campo da ética e da lisura no trato com o dinheiro público”, o qual ele disse ter podido constatar nos momentos em que esteve ao lado da democrata, Robinson diz que, “com relação às metas, o governo está confuso e sem planejamento. Este é um governo que pecou pela falta de planejamento”.

Nesta entrevista, além de avaliar o governo, o vice-governador Robinson Faria fala dos planos para o PSD em Natal e em Mossoró – onde a legenda deverá firmar uma aliança com a deputada estadual Larissa Rosado (PSB), candidata a prefeita daquela cidade, e aborda o papel do senador José Agripino Maia no episódio do seu rompimento político com a governadora Rosalba Ciarlini e também o seu futuro político. Confira:

Jornal de Hoje - Afinal, por que o senhor rompeu com o governo Rosalba Ciarlini?

Robinson Faria - Quando eu tomei a decisão de apoiar Rosalba, acreditei no nascimento de uma grande parceria política e administrativa, caso conseguíssemos a vitória, que terminou acontecendo em 2010. O cargo de vice-governador em nenhum momento era um cargo que eu buscava na minha carreira política. Eu aceitei o convite de compor a chapa confiando num grupo que, naquele momento, achava imprescindível a aliança com o nosso grupo para um projeto do longo prazo, para um governo administrado a quatro mãos, com harmonia, diálogo, amizade e confiança e um grupo fortalecendo o outro e se tornando ao mesmo tempo um só grupo político. Sempre fiz política com muita paixão, sempre gostei muito de confiar e de me entregar de corpo e alma aos meus parceiros políticos. O PMN que me ajudou a eleger cinco deputados é a maior prova disso. Sempre pensei em grupo, nunca fui individualista. Fui presidente oito anos da Assembleia Legislativa porque sempre soube traduzir o pensamento coletivo. Mas essa expectativa que eu criei e que foi acordada comigo e meu grupo em nenhum momento se materializou. Não nasceu a parceria. Foram cumpridos alguns acordos, mas sem nascer essa parceria salutar de um grupo que veio para consolidar a vitória do atual governo. Com o passar dos dias, eu fui percebendo que estava com dificuldades, tanto no âmbito administrativo, como no ambiente político. O agravamento disso são fatos públicos, fáceis de serem lembrados.

JH - Que fatos são estes?

Robinson - A má vontade do governo com a secretaria que o vice-governador ocupava. Só para você ter uma idéia, a secretaria de Recursos Hídricos teve corte, para o orçamento do ano, de 70%, o maior corte entre todas as secretarias, o que demonstrava o total desinteresse quando eu próprio já tinha entregue, no início do governo, um plano de metas de quatro anos para a secretaria, com projetos modernos e inovadores, mas que não tiveram nenhuma receptividade. No campo político, o governo esqueceu rapidamente dos seus principais colaboradores na vitória. Eu, por exemplo, arrisquei minha carreira política. Fui ser vice. Se perdesse estaria sem mandato. Arrisquei mais que Rosalba, que, se perdesse, tinha mais quatro anos de senadora. E eu fui ser seu vice, correndo todos os riscos para dar a vitória a ela. Mas para minha decepção, eu percebia, a cada dia, o esfriamento do grupo da governadora com o grupo politicamente ligado a mim. Eu procurava explicações e não conseguia entender. Contudo, logo as coisas foram se tornando mais claras. O atual governo valoriza mais aqueles que foram seus principais adversários e lutaram pela sua derrota, do que aqueles que foram os mais fiéis e colaboradores de 2010. Tenho que falar de um capítulo que é importante deixar claro, que é sobre o PSD.

JH - Por quê?

Robinson - É bom falar do PSD para que fique clara a trajetória. Quando o prefeito Gilberto Kassab (SP) me chamou para conversar em SP, nem o conhecia, procurei a governadora e falei com seu marido e articulador político – que eu acho natural –, e coloquei na mão deles a decisão de eu ir ou não para SP para essa reunião do PSD com o prefeito de SP. Perguntei se era importante para o nosso fortalecimento, pois, se não fosse, a viagem não existiria. Eles deram concordância e me desejaram boa sorte. Isso deixa claro que o PSD não nasceu de ato de rebeldia ou postura de mostrar independência do vice. Muito pelo contrário, meu único objetivo no PSD era fortalecer o governo pelo qual eu tinha lutado pela sua vitória e estava na melhor das intenções para ser um parceiro administrativo correto como sempre fui na minha vida pública. E também o fortalecimento político da governadora, do vice e de todos os nossos parceiros, pois somente Rosalba e Robinson, daqui a três anos, estariam buscando a renovação do mandato. A minha intenção com o PSD era a mais pura, verdadeira e amiga possível, no projeto da grande parceria que eu sonhei com este governo. A minha intenção política com o PSD na relação com a governadora era igual exatamente à intenção do seu marido de fortalecê-la politicamente. Não tinha nenhum desvio, como foi injustamente colocado por parceiros que tornaram o PSD e o vice-governador como se fôssemos adversários ou no mínimo parceiros sem confiança. Tenho 25 anos de vida pública, tenho história na minha trajetória de cumprir a palavra, de ser amigo de meus amigos, de coerência e de lealdade. Jamais passou pela minha cabeça em nenhum momento usar aquele prestígio que eu começava a buscar, de ter o direito legítimo de me fortalecer, pois não tinha nenhum tipo de conflito na caminhada futura entre mim e a governadora. Em várias entrevistas eu dizia que estávamos atrelados a um corpo só. Não via dois corpos. Mas nunca vi uma injustiça e uma ingratidão tão contundente como a que aconteceu com o vice-governador.

JH - Qual o papel que teve o senador José Agripino no rompimento?

Robinson - O senador José Agripino foi bastante egoísta quando resolveu formar um grupo de políticos, formar uma aliança poderosa para enfraquecer a mim e o PSD, jogando o governo contra a militância de prefeitos, vereadores e deputados, que queriam ingressar no PSD ou já eram do PMN, que foi tão cobiçado e cortejada por ele e a governadora, para ser o parceiro fundamental da vitória. Isso chegou ao ponto de tornar impossível a convivência política entre mim e a governadora, pois ela foi contaminada pelo veneno deste grupo, liderado pelo senador José Agripino, de chegar ao ponto de ela própria e dos seus assessores políticos o tempo inteiro chamando os meus parceiros, para não se filiarem ao PSD como se o PSD fosse um partido adversário. Veja que coisa estranha: O partido do vice, que é uma continuação do PMN, ser tratado como partido adversário. Onde o presidente estadual do DEM disse que em nenhum município do RN o governo iria apoiar um candidato do PSD e nenhuma vez ela desmentiu, deixando seu vice numa posição desconfortável, me deixando ser questionado pelas minhas bases sobre o que estava acontecendo. Para não alongar mais essa resposta, considero que o que aconteceu foi a maior ingratidão e injustiça já vista na história política do RN: Num primeiro ano de governo, o vice é obrigado a sair por ter cometido esse equívoco de confiar num grupo político que só viu a importância quando precisou da vitória.

JH – Houve tentativa de reaproximação entre o senhor e a governadora?

Robinson - Não houve. Pelo contrário, achando pouco o que fez o senador José Agripino continuou dando entrevista em tons de jocosidade e ironias, acometido de uma forte soberba, contra o PSD e tornando público e comemorando publicamente esse desfecho que teve ele como principal protagonista.

JH – O episódio prejudicou a criação do PSD no RN?

Robinson - O PSD não foi prejudicado. Lógico que não teve a dimensão que estava previsto, mas continua com excelente aceitação na simpatia popular, mesmo fora da aliança política do governo. Estamos presentes em 132 municípios e eu continuo com a expectativa muito otimista e tranqüila com o crescimento do partido nas eleições municipais.

JH – Como o PSD se comportará nas próximas eleições em relação ao DEM no RN?

Robinson - A posição do PSD não é a posição da soberba nem de arrogância. Até porque não vou penalizar por conta de legendas nas quais se encontram filiados lideranças que foram nossos parceiros da vitória de 2010. Não tomarei atitudes motivadas pelo sentimento de raiva ou de vingança e sacrificar fiéis colaboradores de 2010. Se existir no palanque do DEM, e eu sei que existe, lideranças políticas que a meu pedido ou a pedido dos meus parceiros na época, vieram votar em Rosalba, estarei com eles mesmo sendo candidatos do DEM. Nossa posição é democrática e de humildade, respeito e gratidão àqueles que em 2010 foram essenciais para a vitória de Rosalba e Robinson.

JH - E em Natal, qual a posição do partido em relação a 2012?

Robinson - O PSD está dialogando com os partidos de oposição. Ainda não nos reunimos, eu, o deputado Fábio Faria, o deputado José Dias, a deputada Gesane Marinho. Temos tempo para tomar decisão e respeitaremos a decisão de cada um.

JH – O PSD admite uma aliança com o PSB?

Robinson - Há grande identidade de parceria nacional do PSD de Gilberto Kassab com o PSB de Eduardo Campos, grande afinidade. É possível, mas não há ainda uma decisão, até porque ainda não tem nenhuma coligação ainda formada, não seremos nós que não somos os principais protagonistas que seremos os primeiros a definir posição. Tenho dialogado com todos, conversei com a governadora Wilma, com o deputado Mineiro, com o deputado Agnelo, tenho ligações com a deputada Fátima, com todos eles, mas estamos com muita calma, sem querer que seja isso aí um jogo de valorização, muito pelo contrário. É até uma reflexão que o nosso grupo precisa fazer para uma decisão tão importante.

JH - Com relação à recomposição defendida por aliados da prefeita Micarla, é possível com o PSD?  

Robinson - Não tenho nada pessoal contra a prefeita Micarla. Tenho todo o respeito por ela como pessoa. Mas a aliança política que formamos em 2008, quando eu a apoiei com todo o meu grupo, não teve continuidade. Terminou após a eleição. Pelo menos com o grupo de Robinson Faria. Se teve continuidade, não foi com o nosso grupo. Conversar, conversaremos com todos, mas é uma hipótese remota, porque foi uma parceria que não deu certo.

JH - Qual a avaliação que o senhor faz deste primeiro ano de gestão Rosalba Ciarlini?
Robinson - Vou falar como cidadão que desejo o melhor para o meu estado, sabendo distinguir o momento político de estar hoje separado politicamente da governadora. Diria que o primeiro ano no âmbito administrativo, o governo não teve praticamente conquistas para anunciar à população. Faço um registro com muita dignidade e por questão de justiça que os meses que convivi, o mais importante que eu pude visualizar foi o comportamento da ética e da lisura no trato com o dinheiro público da governadora. E daria como exemplos quando ela mandou a sua decisão corajosa de acabar com a inspeção veicular e também com os regimes especiais que privilegiavam grupos econômicos. Com relação às metas, o governo está confuso e sem planejamento. Um governo que pecou pela falta de planejamento. A segurança, por exemplo, que é um clamor muito forte da população, tem uma excelente equipe, excelente secretário, mas não tem nenhum tipo de apoio. Na saúde não houve nenhuma evolução, os hospitais continuam sucateados, os regionais, principalmente os hospitais do interior do Estado que poderiam minimizar a migração para Natal, mas estão literalmente abandonados, e, nessa questão da saúde, acho até que piorou a situação do Estado. Na área social também considero que houve um retrocesso, com o programa do leite, as centrais do cidadão, cidadão nota dez, cidadão sem fome. Foi uma grande frustração a área social em 2011. A educação continua a mesma coisa, não teve nenhum projeto inovador. Na área tributária o estado tem referência que deve ser ressaltada pela equipe comandada pelo secretário José Airton, se não tivesse sido eficiente as coisas estariam muito pior. E o estado chega ao final do ano perdendo aquele que foi o principal guardião que o governo pode ter que é o advogado Paulo de Tarso Fernandes, que qualquer governador de qualquer estado brasileiro gostaria de ter ao seu lado. Perdeu por conta das tramas políticas a que o governo se submeteu.

JH - Em Mossoró, o partido fechará aliança com a deputada Larissa Rosado?  

Robinson - Estive em Mossoró algumas vezes conversando com o presidente do PSD, vereador Silveira Júnior, também presidente da Câmara e com Jório Nogueira. O PSD em Mossoró tem uma expectativa de eleger cinco vereadores, está bem situado e forte. Dei total autonomia para deliberação, mas fiz questão de ressaltar como presidente estadual do PSD, que, embora respeitando a posição do PSD local, o caminho natural é o fortalecimento dessa união do PSB com PSD em torno da deputada Larissa, que é simpática a esse grupo. Não posso anunciar o apoio oficial à deputada Larissa, de quem sou amigo, dela e sua mãe Sandra, com quem me reuni em Natal essa semana, pois esta decisão será em coletivo com todo o grupo e militância do PSB, comigo, Larissa e a deputada Sandra.

JH - Qual seu futuro político?

Robinson - Minha sensação hoje é que ao longo dos 25 anos consegui subir como se fosse uma escada e eu tivesse chegado ao trigésimo degrau, quase me tornando candidato a governador em 2010. A sensação hoje é que me empurraram ladeira abaixo me vendo ter que subir novamente todos esses degraus que haviam sido escalados às vezes com suor e lágrimas. Mas há uma coisa na política melhor que o poder político: é o capital e o legado da palavra, da coerência e da lealdade, e com este capital, eu estou recomeçando a minha caminhada. O poder político de qualquer agente não é medido pela força do seu poder momentâneo, mas sim pela sua conduta e credibilidade e eu ao contrário do que pensavam não estou hoje movido por nenhum sentimento de raiva, de vingança, ressentimento, mas ao contrário, estou motivado, com bastante serenidade e humildade para ir em frente. Com relação a 2014, o tempo é o senhor da razão. Não sei o cargo que disputarei, mas garanto que a minha motivação hoje ela foi bastante renovada e ampliada diante de tudo que fizeram comigo.

Entrevista concedida a O JORNAL DE HOJE
 

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