terça-feira, dezembro 21

O CONTADOR DE ESTRELAS

 

Qualquer semelhança pode ser mera coincidência!

Todavia ao ver o exercício diário do ex-prefeito Luizinho, que há 13 anos ininterruptos, sem as cifras dos recursos oficiais ao seu controle, passa a imitar o homem ocupado de negócios, personagem da obra prima o "Pequeno Príncipe" contando todo santo dia os recursos e investimentos que entram na prefeitura de Carnaubais. 

Esta praticidade frequente é um paralelo semelhante ao tempo em que o contador de estrelas optou para sobreviver a ansiedade da falta de poder.

É estranho como, na nossa vida moderna, acabamos por ocupar nosso tempo com preocupações desnecessárias e esquecemos das poucas coisas que realmente nos fazem feliz. As vezes esquecemos até dos motivos que fazem com que estejamos ocupados com estas preocupações. Quanta falta faz uma prefeitura nas mãos de quem estava habituado a usá-la ao seu bel prazer!

Antoine de Saint-Exupéry, esse cara de Lyon que escreveu uma das melhores obras literárias de todos os tempos:

Segue o trecho textual:

O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
– Bom dia, disse-lhe este. O seu cigarro está apagado.
– Três e dois são cinco. Cinco e sete, doze. Doze e três, quinze. Bom dia. Quinze e sete, vinte e dois. Vinte e dois e seis, vinte e oito. Não há tempo para acender de novo.
Vinte e seis e cinco, trinta e um. Uf ! São pois quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta e um.
– Quinhentos milhões de quê?
– Hem? Ainda estás aqui? Quinhentos e um milhões de… eu não sei mais … Tenho tanto trabalho. Sou um sujeito sério, não me preocupo com ninharias! Dois e cinco, sete…
– Quinhentos milhões de quê? repetiu o principezinho, que nunca na sua vida renunciara a uma pergunta, uma vez que a tivesse feito.
O homem de negócios levantou a cabeça:
Há cinqüenta e quatro anos que habito este planeta e só fui incomodado três vezes.
A primeira vez foi há vinte e dois anos, por um besouro caído não sei de onde. Fazia um barulho terrível, e cometi quatro erros na soma. A segunda foi há onze anos, por uma crise de reumatismo. Falta de exercício. Não tenho tempo para passeio. Sou um sujeito sério. A terceira… é esta! Eu dizia, portanto, quinhentos e um milhões…
– Milhões de quê?
O homem de negócios compreendeu que não havia esperança de paz:
– Milhões dessas coisinhas que se vêem às vezes no céu.
– Moscas?
– Não, não. Essas coisinhas que brilham.
– Abelhas?
– Também não. Essas coisinhas douradas que fazem sonhar os ociosos. Eu cá sou um sujeito sério. Não tenho tempo para divagações.
Ah estrelas?
– Isso mesmo. Estrelas.
– E que fazes tu de quinhentos milhões de estrelas
– Quinhentos e um milhões, seiscentos e vinte e duas mil, setecentos e trinta e uma.
Eu sou um sujeito sério. Gosto de exatidão.
– E que fazes tu dessas estrelas?
– Que faço delas?
– Sim.
– Nada. Eu as possuo.
– Tu possuis as estrelas?
– Sim.
– Mas eu já vi um rei que …
– Os reis não possuem. Eles “reinam” sobre. É muito diferente
– E de que te serve possuir as estrelas?
– Serve-me para ser rico
– E para que te serve ser rico?
– Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
Esse aí, disse o principezinho para si mesmo, raciocina um pouco como o bêbado – No entanto, fez ainda algumas perguntas.
Como pode a gente possuir as estrelas?
De quem são elas? respondeu, ameaçador, o homem de negócios
– Eu não sei. De ninguém.
– Logo são minhas, porque pensei primeiro.
– Basta isso?
Sem dúvida. Quando achas um diamante que não é de ninguém, ele é teu. Quando achas uma ilha que não é de ninguém, ela é tua. Quando tens uma ideia primeiro, tu a fazes registrar: ela é tua. E quanto a mim, eu possuo as estrelas, pois ninguém antes de mim teve a ideia de as possuir.
Isso é verdade, disse o principezinho. E que fazes tu com elas?
Eu as administro. Eu as conto e reconto, disse o homem de negócios. É difícil. Mas eu sou um homem sério!
O principezinho ainda não estava satisfeito.
Eu, se possuo um lenço, posso colocá-lo em torno do pescoço e levá-lo comigo. Se possuo uma flor, posso colher a flor e levá-la comigo. Mas tu não podes colher as estrelas.
Não. Mas eu posso colocá-las no banco.
Que quer dizer isto?
Isso quer dizer que eu escrevo num papelzinho o numero das minhas estrelas.
Depois tranco o papel a chave numa gaveta.
– Só isto?
– E basta…
É divertido, pensou o principezinho. É bastante poético. Mas não é muito sério.
O principezinho tinha, sobre as coisas sérias, idéias muito diversas das idéias das pessoas grandes.
– Eu, disse ele ainda, possuo uma flor que rego todos os dias. Possuo três vulcões que revolvo toda semana. Porque revolvo também o que está extinto. A gente nunca sabe.
É útil para os meus vulcões, e útil para a minha flor que eu os possua. Mas tu não és útil às estrelas …
O homem de negócios abriu a boca, mas não achou nada a responder, e o principezinho se foi …
As pessoas grandes são mesmo extraordinárias, repetia simplesmente no percurso da viagem.

Enfim, as vezes faz bem avaliarmos os motivos que fazem com que seja necessário o trabalho, o amor, até mesmo a saúde.
Estamos aqui para que?
Sinto solidão e desinteresse. O melhor termo seria falta de motivação.
Trabalhar por trabalhar e construir por construir não me parece bom o suficiente.
Talvez compartilhar fizesse sentido, mas as pessoas estão tão ocupadas vivendo suas vidas e falando sobre sí mesmas que acabam por simplesmente não perceber o que ocorre ao lado…
Pra que contar estrelas se o importante é a maravilha de observa-las?

Moral da História - o que Luizinho faz pode até não ser obsessão, mas é hilariante o seu desconforto sem a prefeitura!

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