segunda-feira, novembro 10

ORDENS RELIGIOSAS SEM RELIGIÃO

CARLOS CHAGAS
Durante a campanha presidencial, as críticas da oposição e, em especial dos setores conservadores da produção, queixavam-se de que o governo Dilma, por interesses eleitorais, não queria atualizar os preços dos combustíveis, das tarifas de energia elétrica e, muito menos, aumentar os juros. Com isso crescia o perigo de a inflação desembestar.
Conquistada a reeleição, em manobra lamentável e pouco ética, a presidente fez tudo de uma vez. Anunciou aumentos na gasolina e no óleo diesel, reajustou em níveis cruéis a luz e a energia e aceitou, mas certamente autorizou, que os juros subissem 0.25%.
Coisa que todos os governos fazem, uns com mais, outros com menos desfaçatez. O povo que se dane, pois votou numa coisa e recebeu outra.
O problema é que os mesmos setores em guerra contra o congelamento agora criticam as atualizações de preços. Também são contraditórios, para dizer o mínimo. Malandros, demonstram estar menos preocupados com a economia do que com a disputa pelo poder. Porque da permanente e vertiginosa alta no lucro dos bancos, nem uma palavra. Muito menos sobre os índices de sonegação de impostos ou o contínuo fluxo de remessas especulativas para o exterior, mesmo quando os investimentos internacionais minguam a olhos vistos.
Tivesse sido Aécio Neves o vencedor e estariam invertidas as posições. Os companheiros se arregimentariam em furibunda oposição, denunciando a sanha dos ricos na exploração dos pobres, e os tucanos e seguidores exaltariam a verdade financeira.
O óbvio é que nada mudou. Apesar das exortações dos dois candidatos em prol de alterações fundamentais, no governo ambos serviriam a seus intuitos menos nobres. Tanto os eleitores de Dilma quanto os de Aécio permanecem órfãos de um poder público sempre prometido mas jamais concretizado. Resta-lhes ser suportados pela esperança de que um dia tudo vai mudar. São, tucanos e companheiros, ordens religiosas sem religião.
O MESMO DE SEMPRE
Existe na História uma regra inexorável, de que quando as oligarquias conquistam o poder, acabam terminando em tiranias. Estas despertam seus contrários e, de quando em quando, são depostas pela democracia, plena de propostas libertárias que acabam se transformando em desordem e libertinagem. De novo organizam-se as oligarquias e a roda gira outra vez.
Os ricos assustaram-se com os rumos tomados por João Goulart. Conspiraram, tumultuaram e acabaram encaminhando os militares ao poder. Deu em ditadura, que os anos desgastaram, ensejando a rebelião não apenas das massas, mas da opinião pública. Com a Nova República, mesmo demorando, vai emergindo a desordem. Organizam-se as oligarquias e o resultado, mesmo a longo prazo, já sabemos qual será.
Fonte: Diário do Poder

Nenhum comentário:

Postar um comentário