domingo, outubro 12

Casos de câncer em jovens adultos de até 50 anos aumentam 284% no SUS entre 2013 e 2024


Foto: FatCamera/GettyImages

O número de diagnósticos de câncer em brasileiros de até 50 anos quase quadruplicou entre 2013 e 2024, segundo levantamento do g1 com dados do DataSUS. Os registros no Sistema Único de Saúde (SUS) passaram de 45,5 mil para 174,9 mil casos, um aumento de 84% no período.

Os tumores de mama, colorretal e fígado estão entre os que mais crescem nessa faixa etária. O câncer de mama lidera com 22 mil novos casos anuais e alta de 45% em uma década.

 

Tipos de câncer mais incidentes (2013–2024)

  1. Mama: 219.449 casos — principal entre mulheres, com aumento expressivo.
  2. Colo do útero: 105.269 casos — ligado à baixa adesão à prevenção.
  3. Colorretal: 45.706 casos — crescimento de 160%; relacionado à alimentação e sedentarismo.
  4. Estômago: 38.574 casos — associado a dietas ricas em sal e ultraprocessados.
  5. Fígado: 26.080 casos — vinculado ao álcool, hepatites e obesidade.

Sistema de dados incompleto

Especialistas alertam que o número real de casos pode ser maior, já que o Brasil não tem registros completos da rede privada. Cerca de 75% da população depende do SUS, onde a notificação é obrigatória.

Na saúde suplementar, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não possui dados detalhados porque uma decisão judicial de 2010 impede o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) nas bases das operadoras.

Câncer colorretal é o que mais preocupa

Os casos de câncer colorretal — que afetam cólon, reto e canal anal — saltaram de 1.947 para 5.064 entre 2013 e 2024. Segundo o oncologista Samuel Aguiar (A.C.Camargo), 90% dos diagnósticos estão ligados ao estilo de vida, com destaque para dieta industrializada, obesidade e sedentarismo.

A baixa adesão à colonoscopia também é um fator crítico: o exame é pouco realizado antes dos 50 anos, o que faz muitos pacientes jovens descobrirem o câncer em estágio avançado.

Mudança no perfil dos pacientes

Médicos apontam uma mudança geracional no padrão de risco. Antes concentrado em idosos, o câncer agora afeta jovens adultos, influenciados por alimentação rápida, estresse, sobrepeso e noites mal dormidas.

Segundo Sumara Abdo (INCA), os protocolos de rastreamento ainda estão defasados:

“Os tumores de mama e colorretal estão aparecendo antes dos 50 anos. Precisamos incluir os mais jovens nos programas de prevenção.”

Sistema de saúde despreparado

Mesmo com avanços, como a ampliação da mamografia a partir dos 40 anos no SUS (em 2025), especialistas dizem que o sistema ainda não acompanha a nova realidade.

A oncologista Isabella Drummond lembra que muitos pacientes não iniciam o tratamento dentro dos 60 dias previstos por lei e que a oncologia de precisão ainda é inacessível para quem depende do SUS.

Crescimento global

O aumento do câncer precoce é um fenômeno mundial. Um estudo da revista Nature Medicine (2022) aponta crescimento em todos os continentes, principalmente em países urbanizados. As causas incluem mudanças na microbiota intestinal, sono insuficiente e poluição.

Sem políticas de prevenção e diagnóstico rápido, o Brasil pode seguir o padrão dos EUA e Reino Unido, onde os casos em pessoas com menos de 50 anos já representam 20% dos novos diagnósticos anuais.

Sinais de alerta

  1. Perda de peso inexplicável
  2. Sangue nas fezes ou urina
  3. Nódulos persistentes
  4. Cansaço extremo
  5. Sangramento anormal

“O câncer diagnosticado cedo tem mais de 90% de chance de cura”, reforça Isabella Drummond. “Mas o paciente precisa ser ouvido e ter acesso rápido ao exame certo.”

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