Por mais que se deseje que nossos candidatos sejam opções sérias, puras e responsáveis, quem se arrisca a ser verdadeiro corre o risco de ser derrotado.
Lembro de uma passagem da eleição de 1978, o ex-padre José Luiz Silva saiu candidato a deputado federal, tendo resolvido se aconselhar com o respeitado religioso Frei Damião.
Zé Luiz antes de iniciar sua peregrinação em busca de votos, foi ter uma conversa de pé de orelha com seu conselheiro, indo até a cidade de Juazeiro no sertão cearense pra ouvir do padim frei Damião algumas orientações.
Neste período este humilde escrevinhador havia pedido exoneração do cargo de secretário de administração de Carnaubais por discordar de um posicionamento político assumido pelo prefeito Valdeci Medeiros. Resolvi voltar para Natal e fazer cursinho pré-vestibular.
Votava neste tempo em Roberto Furtado com quem sempre mantive boa relação de amizade. Através do deputado do MDB fui indicado para trabalhar no comitê do sertanejo Radir Pereira,candidato a senador da república.
Fiz parte de um grupo de coordenadores de bairro em Natal sob o comando do assessor geral de campanha, o conceituado Jornalista Rubens Lemos (Rubão).
Zé Luiz pediu minha ajuda para fazer distribuição do seu material e algumas viagens em sua companhia interior afora.
Fomos ao Juazeiro, sendo recebido no centro paroquial por padre Murilo que nos deu total atenção pra que acontecesse este encontro com o missionário do Nordeste.
Padre Zé Luiz expôs seus pensamentos, falou das dificuldades de campanha da falta de recursos, sem estrutura financeira para o tamanho do desafio que estava enfrentando.
Padim Frei Damião no jeito sisudo de conversar falou assim: tudo isso você tem condições de vencer, contando que não minta para o povo, fale a verdade, somente a verdade.
Se você tiver coragem de fazer isto, sua eleição estará garantida.
Na semana seguinte saímos numa jornada de visita aos municípios de Mossoró, Assú, Alto do Rodrigues e Pendências.
Em Mossoró ouvimos Vingt Rosado com seu discurso tradicional repetindo as promessas de sempre, chegando em Assú Henrique Alves com uma retórica eloquente explorava o fanatismo do povo pelo prestigio do pai ex-governador, em Alto do Rodrigues Carlos Alberto com sua argumentação recheada de frases de efeito com semântica demagógica impressionava o povo recebendo grandes aplausos.
Finalizamos a maratona em Pendências com João Faustino falando para uma multidão: discurso bonito, seguindo o roteiro normal de promessas era a grande sensação da campanha naquele período.
Na outa semana em Natal fomos para o bairro das Quintas e lá estava Djalma Marinho com fama de grande tribuno sendo o grande orador do palanque do candidato Jessé Freire candidato adversário do sertanejo Radir.
Djalma não fugia do ilusionismo que gosta de ouvir o eleitor.
Fomos ao oeste e lá Antônio Florêncio mandava no pedaço.
Na região Seridó Wanderley Mariz ressuscitava a influência do seu falecido pai Dinarte Mariz. Finalmente nenhum destes fez campanha seguindo o ritual que falou padim frei Damião ao seu afilhado padre Zé Luiz. Todos foram para Brasilia continuar o projeto que sempre defenderam.
Moral da história o ex-padre chegava pra falar ao povo numa humilde Kombi fornecida por Radir: sem grandes públicos para ouvir sua pregação e sendo Zé Luiz um orador de oratória limitada, dizendo ser filho de lavandeira, pai agricultor, menino pobre e preto da cidade de São José de Campestre, sem dinheiro pra comprar votos de lideranças, material de construção e outra ajudas pedidas pelo o eleitor.
Fazendo tudo como disse Frei Damião - ao abrir as urnas, recebeu uma irrisória soma de votos que não dava pra eleger um vereador em Natal.
Enfim, todos que mentiram se deram bem e padre Zé Luiz com seu puritanismo político, nem aplauso recebia quando encerrava seus discursos.
Dito isto, continuo acreditando na verdade: se alguém quiser perder uma eleição seja sincero, a mentira já faz parte da cultura do eleitor...
Basta você observar como faz a maioria dos políticos para saber que o que estou escrevendo tem uma propriedade qualificativa.
Ninguém tem coragem de dizer que não quer nada do poder, que não vai usar o dinheiro público em seu favor, que não vai apadrinhar seus familiares nos melhores cargos, que vai trabalhar sem receber salários, tudo que fizer é para o bem do povo.
Se aparecer um doido com esta coragem, não realiza o que disse, porque o povo sabe que esta verdade não prevalece, será mais uma forma de enganar.
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