CARLOS CHAGAS
Apesar do canibalismo demonstrado pelos institutos de pesquisa com relação à eleição presidencial, dos desvios e desvãos das consultas populares, o comportamento do PT, de Dilma e do Lula continuam indicando a vitória de Marina Silva no segundo turno. A pergunta que se faz é como a candidata, se vitoriosa, construirá sua base de apoio político, no Congresso e no ministério, presumindo-se que a tenha conquistado junto à maioria da opinião pública. Porque os partidos, à exceção do PT, ou de parte do PT, estão de garras e presas afiadas para fazer do futuro governo o que fizeram do atual: um condomínio para obter a satisfação de seus interesses, nem sempre éticos e quase nunca voltados para o interesse nacional.
Não obstante as declarações do vice-presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves, de que seus partidos formariam na oposição a Marina, ninguém acredita. Tanto PMDB quanto PSDB precisarão sobreviver, pois só com o PSB e penduricalhos a nova administração não se aguentará. Duvida-se de que será possível governar acima e além de legendas fisiológicas, pois o exemplo dos últimos doze anos exigiria um milagre.
O primeiro obstáculo para a suposta nova presidente da República repousa na composição do seu ministério. Escolher apenas os melhores de cada setor, sem considerações partidárias, equivalerá a mergulhar num precipício. Selecionar os melhores em cada partido, daqueles ávidos de aderir, exigirá mágica ainda maior, pois os dirigentes de hoje serão os dirigentes de amanhã. Lotear o governo, como fez Dilma Rousseff, significará um passaporte para o fracasso. Junte-se a tamanho impasse as dificuldades no relacionamento de Marina com os sindicatos, o empresariado, o agronegócio e os meios de comunicação e se terá a receita de um enigma dentro de um mistério. Frágil ela não é, apesar das aparências físicas. Sua força política poderá assentar-se nos novos governadores, ainda que não todos. Afinal, eles dependerão do poder central, assim como a recíproca será verdadeira.
Existem otimistas que supõem o aparecimento de um anjo a pairar sobre as trevas. Anjo meio estranho, de asas às vezes escuras, mas capaz de vir em socorro das agruras do novo governo. Chama-se Lula, única força em condições de levar o PT a uma postura de entendimento, senão de conciliação. Na campanha, ele tem exagerado em críticas à candidata socialista, mas sua condição de criador da Dilma não deixa outra opção. Depois, no caso de confirmada a derrota da sucessora, o quadro será outro. Deixar o país naufragar por conta das limitações políticas e partidárias de Marina, mesmo vitoriosa, ou oferecer-lhe a taboa de salvação para continuar à tona.
Raras vezes na História surgiu um nó como o que se prenuncia para o próximo ano. Por isso não tem sido poucas as opiniões de que Marina deveria engolir os sapos lançados pelo outrora barbudo, mantendo um canal de ligação com o Lula. Ele também já recebeu indicações nesse sentido. Haverá um preço, é obvio, para sanar as cicatrizes da campanha. Talvez valha à pena.
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