Douglas Brizzante
" O homem está sempre pronto para distorcer o que dizem os seus sentidos". A frase de Dostoiévski, " O homem está sempre pronto para distorcer o que dizem os seus sentidos", reflete a visão profunda do autor sobre a complexidade da mente humana e sua relação com a realidade. Essa ideia ressoa com os temas recorrentes de sua obra, onde os personagens frequentemente lutam contra suas próprias percepções, desejos e racionalizacões. Dostoiévski acreditava que o ser humano é, por natureza, um ser contraditório, capaz de subverter o que vê, sente ou experimenta para ajustar a realidade ao que deseja ou tem. Os sentidos que deveriam ser instrumentos de verdade, tornam-se ferramentas de interpretação subjetiva, distorcidos pela paixão, pela culpa, pela ambição ou pelo orgulho. Essa tendência de manipular a percepção é, para Dostoiévski, tanto uma falha quanto uma característica inevitável da condição humana. Na prática, essa ideia se manifesta na forma como os personagens de suas obras distorcem os fatos para justificar suas ações ou aliviar suas consequências. Raskolnikov, em crime e castigo, é um exemplo claro: ele convence a si mesmo de que seu crime é justificado por uma suposta superioridade moral e intelectual. Contudo, ao longo da narrativa, sua própria consciência e seus sentidos traem essa racionalização, levando-o ao colapso. Essa frase também revela tensão entre a realidade objetiva e a interpretação subjetiva, um tema que transcende a literatura e encontra eco na filosofia existencialista e psicológica. Ela nos convida a questionar: até que ponto confiamos em nossas percepções? E quando da realidade que experimentamos é, na verdade, uma projeção de nossos próprios conflitos internos? Dostoiévski, com seu gênio psicológico e filosófico, nos alerta para a fragilidade do entendimento humano e nos destina a confrontar as verdades que distorcemos para proteger nossas ilusões. CHICO TORQUATO
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