quinta-feira, agosto 15

CENÁRIO DE MINHA INFÂNCIA

 

Na estrada velha passava, boiada, seus bois, boiadeiro, tropel de dor e saudade. Carroças, seus burros ligeiros, a casa de barro, sapê, o chão batido de cinzas. Ao longe se via fumaça, fogão de lenha, o café. Varais de roupas, a tábua, a bica, o forno, o pilão, cenário de minha infância, pinturas do coração. Ao longe, o boi que morgia, paineira, e um carroção, parado no tempo, ruído, cansado do velho estradão. A tarde, o canário, a serra, teatro de vida e amor, se via o sol já partindo, se pondo no monte, esplendor. A noite caia bem cedo, na roda, a mesa, uma prosa, um chá, uns biscoitos de milho. Sorrisos que bem se pintavam, adormecidas as almas, um aconchego de paz. As vezes no colo da noite, ruídos estranhos, corujas, num pau um velho urutau. E o medo guardado as entranhas, criança de choro e façanhas. E a madrugada acordava, com cantos de galo e um cheiro no ar, daqueles bolinhos de outrora. Mamãe trazia a mesa café, chaleira de chá, pão de milho. Ouvia-se baixo, num tom bem mansinho, papai e mamãe a se prosear. Colchões de palhas de milho, cobertas de trapos, bonitos retalhos. Que tempo tão bom foi aquele, queria voltar, cortando atalhos. O sol acordava com brilho, sorrisos que nunca faltavam. Que vida tão simples de fato, de plena ternura de amor, que pena, ficou num retrato tão triste o sol já se pôs. Se o tempo pudesse voltar, deixar o mundo de hoje pra lá, tão menino, sonhar. Viver tudo aquilo de novo. Na estrada velha passava. J.F.Cruz CHICO TORQUATO

Nenhum comentário:

Postar um comentário