Quando presidi o Parlamento Latino Americano (instituição internacional referendada por tratados dos países latino-americanos, no modelo do Parlamento Europeu) tive experiência próxima com o Instituto Latino Barômetro, uma ONG, sediada no Chile, responsável por pesquisas aplicadas anualmente na política e economia, em 18 países da América Latina. No último relatório (outubro de 2017), o Brasil é o segundo com maior descrença na democracia, à frente apenas da Guatemala.A chilena Marta Lagos, uma das responsáveis pela pesquisa, afirmou que há países sofrendo de “diabete democrática”, com sintomas lentos e invisíveis, que se não forem tratados a tempo, “matarão” essas democracias, diante do perigo do “voto popular” referendar o uso da força, premiando o radicalismo de direita, ou de esquerda.O caminho do autoritarismo não deu certo em nenhum lugar do mundo.O fenômeno inverte as tendências históricas. Se antes, as democracias eram derrubadas por pelotões armados, a estratégia atual é asfixiá-las, através da imposição de “regras prévias” para “vigiar e tutelar” a voz das urnas.Assim foram os “desastres” eleitorais de Chávez (hoje Maduro) na Venezuela, Putin na Rússia, Viktor Orbán na Hungria, Erdogan na Turquia (Partido Justiça e Desenvolvimento), Rodrigo Duterte nas Filipinas, Fujimori no Peru, Rafael Correa no Equador, na Polônia partido de direita, ultraconservador “Lei e Justiça (PiS)”, Anastasio Somoza na Nicarágua, Evo Morales, na Bolívia e outros.A Alemanha, no início do século XX, devastada por grave crise (semelhante ao Brasil atual), optou por delegar a uma comissão de notáveis, liderada pelo jurista Hugo Preuss, a elaboração do projeto de Constituição, que não conteve a insatisfação social. Em 1933, o voto popular dos “inocentes úteis” levou os nazistas ao poder.Na Itália, não foi diferente. O país vivia grave crise e Benito Mussolini, aos 38 anos de idade elege-se deputado, pelo voto popular (1921). Logo criou e comandou os chamados “camisas negras”, que pregavam o salvacionismo da pátria, ações messiânicas e impactantes de moralização, anticorrupção e antiviolência.Após a chamada “Marcha sobre Roma” (1922), ele ocupa o cargo de primeiro ministro, em decorrência de ameaças, que anunciaram um ataque militar, caso o rei Vitor Emanuel III não o indicasse. O monarca acuado, cedeu.Numa véspera de Natal, Mussolini usou os poderes discricionários e mudou o título de “presidente do Conselho de Ministros” para “chefe do governo”. Criou para si a patente de “Primeiro Marechal do Império” (antes foi sargento na I Guerra Mundial).Começa aí a implantação do seu projeto político fascista na Itália, que “deu no que deu”.Fatos históricos “abrem o olho” do eleitor brasileiro, para que o espaço eleitoral de 2018 seja usado na “consolidação da nossa democracia”. Churchill disse, que a democracia tem defeitos, mas ainda é a melhor forma de governo experimentada na história. Não se nega que o sistema brasileiro está desgastado, precisa de reformas e mudanças que o regenerem, erradicando a corrupção e os desmandos.Todavia, não será a “força discricionária” que mudará esse quadro. Ao contrário aumentará tensões.Existem exemplos históricos, indicando caminhos pela via política e não autoritária, sem o sacrifício das liberdades: os pactos de “Moncloa” (Espanha) e “Concertácion” (Chile), firmados em defesa da governabilidade democrática.O Pacto de Moncloa (Espanha-1977) transformou-se em “consenso histórico” sobre as reformas inadiáveis.No Chile (1988), após a ditadura de Pinochet, foi construída a coalizão política denominada “Concertación”, que conduziu o país à integração nos processos de globalização mundial.Não houve adesões, nem fisiologismos. Apenas, grupos políticos antagônicos sentaram-se em torno de uma mesa e definiram o que é interesse nacional, incluindo a garantia da economia de mercado, concorrência e incentivos.Nos sistemas totalitários citados neste artigo, a primeira medida foi a intervenção estatal na economia privada.Somente a luta pela Democracia, sem concessões, conduzirá nossa Nação à paz social. Espera-se que ao final da eleição prevaleça o resultado das urnas, seja lá qual for e por mais desagradável que pareça.Outra alternativa significaria mais uma experiência autoritária ruinosa. Por tais motivos, 7 de outubro próximo será o “Dia D” da Democracia brasileira, assemelhando-se ao feito histórico do desembarque aliado na Normandia, que pôs fim a II Guerra e preservou as liberdades no mundo.
Fonte - Blog de Ney Lopes
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