Um governo sitiado, assim podemos definir a situação do presidente interino Michel Temer, três semanas após a sua posse. Não tanto pela ação do adversário, embora esta venha acontecendo em escala crescente, mas principalmente pelas contradições inerentes ao modelo que adotou.
A demissão do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, demonstra o quanto se estreitou a margem para Temer costurar, de um lado, amplo apoio no Congresso e, de outro, não frustrar os sentimentos de uma sociedade que apoiou e quer o impeachment, mas não lhe deu um cheque em branco.
Michel Temer necessita maioria em um Congresso que chegou ao “fundo do poço, do qual parte dele é de réus”, para utilizar uma expressão do atual ministro da Defesa, Raul Jungmann. O grande motor para a aprovação do início do processo de impeachment foram as manifestações multitudinárias, mas não se pode ignorar que alguns parlamentares aderiram à onda, na expectativa de que haveria um arrefecimento na Lava-Jato com a posse do novo governo.
As gravações de Sérgio Machado evidenciam as ramificações dessas forças no Congresso Nacional. O xis do problema para Temer é como construir uma maioria parlamentar sem se confundir, ou abrir espaço, para quem conspira contra a Lava-Jato.
Mais do que nunca, tempo é ouro. Qualquer vacilo, qualquer demora em separar o joio do trigo, alimenta desconfianças quanto aos compromissos do presidente interino com a continuidade das investigações e joga água para o moinho de forças interessadas na desestabilização do governo de transição.
O humor dos brasileiros, que por enquanto é de expectativa cautelosa, pode entrar em mutação a qualquer momento. A expectativa pode dar lugar ao descrédito e servir de caldo para saídas aventureiras ou messiânicas, não previstas em nosso arcabouço constitucional.
A batalha do impeachment não está terminada. A depender de como as ruas se pronunciem (ou de sua apatia), a correlação de forças pode se modificar no interior do Senado. Michel Temer tem de ficar com um olho no peixe e outro no gato. Em Renan Calheiros e na sociedade.
O senador alagoano pode ser o novo condestável da República, mas a opinião pública costuma falar mais alto em momentos decisivos. É bom observar o movimento das placas tectônicas no Senado, para não ter surpresas mais à frente.
A política pode contaminar a economia e complicar a vida da equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que tem uma tarefa hercúlea pela frente: a reconstrução da economia duramente danificada nos anos Dilma.
Se já seria uma missão dificílima de ser realizada em condições normais de temperatura e pressão – em um governo recém-saído das urnas -, imagine em uma transição dolorosa como a atual, onde o novo governo ainda tem de se legitimar perante a opinião pública e o PT utiliza a estratégia de fustigamento para fazê-lo sangrar.
Evidente que o lulopetismo e seu braço sindical vão tentar incendiar o Brasil. Sob o pretexto de defender “direitos”, buscarão criar um clima de ingovernabilidade, de “desobediência civil”, de convulsão social, com vistas ao seu retorno ao poder. Seja a que preço for, mesmo a preço de levar o país a um buraco ainda mais profundo.
Aparentemente estamos diante de uma equação simples. Credibilidade e recuperação da economia andam de mãos dadas. O desafio do governo Temer é exatamente esse: conquistar a confiança da sociedade para levar adiante as medidas econômicas necessárias à retomada do crescimento.
Não basta apenas olhar para o parlamento. É necessário olhar para as ruas e entender o seu recado.
Postado por Noblat
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